Castanho
Tinha os olhos de cigano fogoso,
grandes, intensos e pareciam varrer a quem mirava.
Trazia consigo essa marca familiar reconhecida por todos
e suscitava curiosidades nas moças do lugar
ouviam das mais desgarradas que aquilo não era o que de melhor tinha.
Era como, em outros tempos, fora seu pai
econômico nos gestos mas certeiro em suas investidas
e exatamente por isso admiravam sua pose imponente e altiva.
Carregava consigo um ar de desespero
tal qual os atônitos diante de uma catástrofe
e trazia no riso a urgência dos que comemoram tudo de uma só vez
como se fosse a última.
Foi da infância à velhice sem nunca ter sido jovem
tamanha sua responsabilidade para com as coisas
era sério e grave mas sem jamais perder seu jeito de menino
educado com todos - sempre - do tipo que toda mãe gostaria de ter
como filho, genro e com um pouco de sorte, marido, quem sabe?
Por estes dias decidiu ser rico - para ajudar a quem precisa -,
como dizia ele mesmo olhando para o vazio.
Ensinou da utilidade dos lenços de pano para dias de calor
apesar do tempo ido. Estava sempre bem vestido
mesmo quando não era sete de setembro
Um dia o espanto. Todos ficaram atônitos por uma ocorrência
minimamente embaraçosa: foi parar no distrito policial
junto com um amigo e mais duas moças.
Elas alegavam que após uns drinques a mais
e algumas peças de roupa a menos,
os meninos, empolgados, queriam praticar com elas
uma forma pouco ortodoxa de sexo que envolvia desde velas,
luvas de limpeza e alguns tabefes como parte da coisa.
Um escândalo!
Inventado por: Henrique Neto às 19:49 | Link |
|