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São Paulo - Brasil
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20041031
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Esculhambação!
Ei,
Dia 7 de novembro – domingo que vem – esse nordestino que vos escreve completará vinte e oito verões em cima do lombo de um jegue. Para comemorar tal marco histórico, promoverei uma esculhambação das boas lá na mercearia.
Para os que fazem parte da panelinha o convite/intimação já foi enviado. Se a caso você não tiver recebido esse emelho por qualquer razão, ainda que cósmico-esotérica-metafísica-informática, me avise correndo que eu re-mando.
Num precisa levar nada, basta aparecer que eu já vou me dar por muito satisfeito. Agora se você tiver guardada em casa uma garrafa de Pitú e quiser me agraciar com esse mimo, pense numa pessoa que vai achar bom!?
Inventado por: Henrique Neto às 01:08 | Link |
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20041029
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Da beleza potiguar e outros bairrismos
"Amanhã faz um ano".
Rosinha agora vive de contar o tempo passado. Há um ano deixou Caicó, o emprego, a casa com piscina e um amor mal resolvido que atende pelo nome de André.
Mora num bairro da moda na cidade grande. Trabalha para a tv globo e entre a casa e o trabalho, tem dificuldades em conseguir convencer o cara da padaria sobre o que vem a ser uma torrada. "– eu vou estar falando com meu gereinte para ver seu eu vou poder estar atendeindo seu pedido". Os paulistanos são mesmo limitados.
Rosinha sofre com a falta de horizontes dessa cidade, o excesso de filas e o formalismo dos rapazes. Acha eles educadozinhos demais pra serem cabras. Se diverte com o pernosticismo das meninas e o mal humor de Stop, o vizinho encrenqueiro.
Contudo, acredita que as coisas podem dar certo a qualquer hora (ainda mais agora que o patrão foi solto) e enquanto isso, gasta tempo fotografando o cotidiano em tons de cinza e grená.
Está se divertindo com um paulistano a quem batizou carinhosamente de "Bezão". Às mais intimas explica: "– é que ele é muito bonito e muito burro...". Sabe que precisa mantê-lo calado a qualquer custo e há dias desistiu de fazê-lo entender que Aracaju não é a capital do Rio Grande do Norte.
Inventado por: Henrique Neto às 21:26 | Link |
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20041023
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Saudade sufocada
Flagrado pela mãe enquanto via fotos de beldades nuas no computador, surpreendeu-se com seu comentário seco:
– que besteira!
Outro dia o constrangimento foi maior – para ele –, enquanto boteava uma morena acre e vivia o céu e a delícia dos prazeres de menino
a mãe entra distraída leito a dentro, se encolheu tentando amenizar sua nudez em pêlo
Ela retrocedeu despistando a invasão impensada.
Um tolo completo!
Só as mães sabem as dobras do nosso ser
conhecem cada canto de nosso alma
e ainda assim, nossos pudores com a nudez ocasional.
Meninos são sempre meninos.
Coloque aqui, morena, um tracejado para que não te esqueças.
Hoje, enquanto batalha uma grana, pensa nas atitudes que toma e acha que não sabe como agir.
Um engano!
Grife essa parte também, meu bem.
Geraldo, me socorra numa hora dessas com sua caravana e seus príncipes brilhantes.
Eu dizia das ligações cósmicas e eternas.
Dizia, ainda, que hoje em dia ela se resume a pastilhas de revestimentos,
sobrevive de reuniões familiares ocasionais e incompletas
lembranças furtivas e a vontade dos que não disseram claramente que a amavam.
Essa crônica se encerra aqui
com uma impossibilidade
uma saudade do caralho
e a obrigação famigerada de acordar todos os dias fingindo que nada aconteceu.
Inventado por: Henrique Neto às 21:21 | Link |
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20041021
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Os caracóis de Carlos
As verdades nem sempre revelam-se com a facilidade esperada. Quase nunca. Ainda mais quando estamos viciados em notar culpa em quem pensamos ser os culpados, ou apontar erros de quem julgamos previamente errados.
Carlos era o quarto filho de uma família de dez irmãos. Usava vasta cabeleira, bem à moda dos anos setenta. Cabelos cacheados eram apreciados pelas moças que já se engraçavam para namorar.
O xampu de Carlos
Antigamente ia-se à bodega para comprar o essencial, produtos de higiene e beleza limitavam-se a um mero Leite de Rosas. "Para ser feliz!", dizia a mãe previdente.
Carlos, zeloso, guardava seu xampu na segunda gaveta do armário em baixo de todas as roupas. Tirando esse cuidado, vivia tranqüilo com seus caracóis cantados em prosa e verso pelo Rei.
Telma, a irmã caçula, não era propriamente um exemplo de criança comportada. Sempre aprontava das suas e quando contrariada, dizem as irmãs mais velhas, rodopiava no chão fazendo pirraça. As crianças e suas opiniões próprias.
O desastre
Numa tarde após a sesta, o xampu de Carlos apareceu derramado dentro da gaveta. Vocês nem imaginam a brabeza de um cabra precursor do MMA – Movimento Metrossexual do Agreste –, ao ver sua principal ferramenta de manutenção capilar desperdiçada.
O mundo caiu. Hipóteses foram levantados, palavras duras proferidas até que a mãe sabiamente sentenciou:
– Ou o autor de tal arte faz uma denúncia expontânea, ou vou lá na rua de cima na casa da mulher que vê a cara das pessoas no fundo da bacia.
A vidente
Havia uma senhora, não sei se na vida prática ou só na cabeça da mãe astuta, que dizia adivinhar quem cometeu delitos de ordens diversas com uma simpatia no mínimo curiosa: em uma bacia com água, após entoar umas rezas esquisitas, aparecia o rosto do autor do ato reclamado por quem fosse consultá-la.
Telma, ciente das verdades que poderiam 'emergir' dessa feitiçaria branca, tratou de se entregar evitando assim, maiores trabalhos para as partes envolvidas.
O desfecho de mais esse caso familiar só vai acontecer lá para o mês que vem. É que Sônia, minha assessora para assuntos da memória da família, está de férias lá na terra santa e eu já pelejei, mas não consegui me lembrar se Telma levou ou não uma pisa.
Inventado por: Henrique Neto às 00:26 | Link |
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20041019
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O amor segundo RK
A visita foi marcada para amanhã. Será tensa e durará no máximo uma hora. Irá junto com o seu advogado. Marriene não irá para evitar constrangimentos ao menino. São mudanças demais na vida de uma mulher só, pensou RK enquanto traga seu cigarro junto a janela.
A fotografia a ser pintada não condiz com a imagem que RK vê no espelho a cada vez que se olha, mas é a real.
RK não é bonita, nem tem bom gosto. Usa cabelo tingido de loira falsa, sobrancelhas de taturanas negras, roupas de gosto duvidoso e umas bijuterias "que só por Deus", como bem dizem as amigas. É histérica, precisa se mostrar e ser aceita, por isso não divide a cena com ninguém. Para se curar fez psicologia. Passou a faculdade inteira na base da cola, mas até isso ela nega. Nunca clinicou porque sabe que não tem capacidade para tal. Ah se Freud soubesse.
Dia desses, sem mais poder esconder o que pululava aos olhos da platéia, RK largou o marido, o filho e uma casa modesta comprada em duzentas e quarenta prestações lá na periferia, por um amor intranqüilo.
[Pausa para um comentário maldoso e pouco edificante].
Imaginem uma balzaca acanalhada namorando uma ninfeta de vinte e um.
Imaginou?
[Voltemos aos detalhes sórdidos dessa trama mezzo folhetinesca].
RK estava namorando com Marriene. Sério. Sentia um frissón só de encontrá-la. Para Marriene tudo aquilo não passava de uma aventura juvenil, já para RK, era o limiar de uma nova era. Assim mesmo, com chavões bíblicos e tudo.
Essa história se acaba no momento em que Pierre, chefe de RK, encontrar-se com ela e Marriene, felizes e lascivas num hotel do Guarujá. E por lasciva, leia-se: "dando um beijo de língua" em pleno restaurante familiar. Desse dia em diante, sem dizer palavra alguma, Pierre, RK e Marriene perceberão que o mundo está mesmo mudado, e já não se pode mais esperar encontrar nada convencional. Nem mesmo manteiga Aviação na embalagem de lata.
Inventado por: Henrique Neto às 00:36 | Link |
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20041016
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O Brasil segundo os paulistas
Denúncia expontânea: O autor eu nem sei quem é, mas a imagem eu roubei lá do JMC mesmo.
Inventado por: Henrique Neto às 18:46 | Link |
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20041012
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Cabra
Você freqüenta festas em casa de nordestino?
Para a resposta negativa uma constatação: você não sabe, então, o que é uma festa. Saí de lá ontem pensando nisso. Lembrando da espontaneidade que faltas às pessoas dessa cidade e no quanto é bom a entrada do inesperado na vida de um cabra.
Eu sou um cabra. De barba feita, civilidades frívolas, mas ainda assim um cabra. Qualquer hora te explico isso melhor e você, menina, vai entender direitinho. Prometo.
- Você já observou nas moças de hoje em dia? Observou como elas são macho pra caralho? Em como enfrentam e tomam conta das situações. Heim, já reparou?
Adriano me faz esses questionamentos esquisitos a cada vez que vai me contar do seu mais novo e frustrado amor. Incrível a previsibilidade do meu amigo. Em seguida dará detalhes da personalidade dela – ele sempre acha que a conhece o suficiente para teorizar sobre o tema –, dirá que desta vez estava apaixonado de verdade e uma série de frases do seu repertório à la Reginaldo Rossi.
– Adriano, passionalidade em excesso é veadagem.
Essa é a senha para a gente pedir mais uma cerveja, comentar a mediocridade da nova literatura, lembrar das festinhas que fizemos no seu apartamento regado a vodka, garotas desinibidas e outras amenidades etílicas. No fundo falamos sempre a mesma coisa, observe. Somos um bando de jovens chatos, reclamões e cheios de querer culpar o “sistema” (sempre ele) por tudo. Adriano, meu sobrinho lá de Natal ou eu rezamos sempre a mesma ladainha.
– O bom mesmo é a espontaneidade, a firmeza nas ações e a moral para dizer o que a gente quer mas nem sempre tem as manhas. Superfilosofa.
Páro o carro. Adriano vomita de novo com a porta aberta. Antes de deixá-lo, me lembra do futebol do dia seguinte.
Chegando na minha casa tenho a certeza que vou ter de inventar uma desculpa muito esfarrapada para a patroa. Dizer qualquer coisa parecida com: “eu estava só no bar com uns amigos tomando cerveja”, falar mais alto e depois, quando ela estiver bem colérica, arrastá-la pela cintura até o quarto e fazê-la lembrar que eu sou seu porto seguro. A firmeza que ela buscou a vida toda. Logo eu, um cabra errante que perde a vida em mini-aventuras amorosas.
Inventado por: Henrique Neto às 22:16 | Link |
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20041010
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Da arte de destruir tijolos
Cinco horas da manhã. João levantou-se pontual, lavou o rosto, tomou o café de todos os dias, encheu a garrafa térmica de água gelada e foi para a olaria. Estava preocupado havia dias, uma criação tinha morrido sem que seu soubesse a razão. João trabalhava pesado.
Sábado era dia de feira, conversa na porta do mercado e farra sem hora para acabar. No bar de Deca-pé-de-pão, na bodega de Bastião Coutinho ou onde tivesse uma roda de amigos bons, João matava o tempo com doses generosas de cachaça e seresta. Abençoado seja àquele que se acompanha de um violão para cantar!
Um funcionário seu, incentivado pela mulher, manda a enteada a procura de João para lhe falar um dinheiro emprestado. João reparou nas pernas roliças, cintura bem feita, ancas largas e malícia no requebrado da mensageira. João apreciador de mulheres de todas as espécies, religião, partido político ou cor, não deixou de passar-lhe uma cantada.
Dias depois, enquanto fazia a sesta na hora do calor maior, João cochilava na rede da olaria abraçado a sua amante – a mensageira de outros tempos. Os homens, como é sabido, padecem de grande sonolência depois do sexo. Sabe-se ainda que este é um dos momentos em que se acham mais vulneráveis e João, como qualquer outro, não esperava ser apanhado ali naquele momento.
A filha mais velha de João, de um gênio fino, ao flagar tamanho descaramento, saiu pisoteando um a um os tijolos recém desenformados (só as filhas conseguem descrever o ódio de ver o seu próprio pai agarrado a outra mulher que não a mãe). Ao chegar em casa contando a boa nova e receber atenção morna da mãe, ela se indignou mais ainda.
Hoje, quando a família rindo comenta essa e outras de João, o foco da conversa sai do delito e vai para a passividade da mãe traída. Sem saber, concluem logo que tudo é relativo, ainda mais quando se tem na história um caso de amor imensurável.
Inventado por: Henrique Neto às 21:39 | Link |
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20041003
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Quase
Por uma diferença de sete votos (isso mesmo, sete) Daíse venceu a eleição de Chico Maturi.
Como dizia meu velho pai: é melhor escapar fedendo que morrer cheirando.
Isso tudo aconteceu lá na minha cidade, Espírito Santo no Rio Grande do Norte – a terra santa do agreste potiguar.
Inventado por: Henrique Neto às 23:10 | Link |
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É sobre um bufete bem dado na cara e o dia em que Sônia dançou
Era uma história sem rimas para parecer de verdade. Só sei que tinha uma banda de metais, muita gente na rua e clima de comício no auge da campanha. De braços com o marido Sônia dançou. Dançou no meio da multidão e a irmã do meio não soube disfarçar a alegria de presenciar àquela cena.
[Corta].
[A câmara volta dez anos no tempo e filma uma conversa dela com o primo, prefeito pela quinta vez].
Um roto, pede necessitado um par de chinelo havaianas, recebe um não, persiste, causa incômodo, ela – sem delongas – saca as suas dos pés e dá em troca de paz na conversa. "Tome e vá-se embora, meu senhor!". Coração grande quem tem são os outros.
[Corta].
[Volta para os dias de hoje.]
Ela deixa para trás as netas e a certeza de que não quer ir, mas vai voltar a viver os velhos tempos. Retrato de candidato pregado na parede da rua, deixando bem claro em quem se vota naquela casa, comício com polícia, atentado à moral, infâmias, calúnias, palavras e leviandades.
Um dia antes bate-boca, santinhos rasgados, escândalo na rua principal, a casa vivia de novo a mesma cena. Bacurau que não fala com arara, que evita o povo do comício dando o dedo sem pudores. Um vexame!
Simulação de homicídio, carro furado à bala, hospital e ambulância. Não acaba mais assunto de palanque. A adúltera, a meretriz, a casa da praia e tantas mumunhas que não há ouvido nem pinico que chegue.
Por saber que Deus está vivo e com a certeza de que Elvis não morreu, oxalá que tudo se acabe sem tiro certeiro, bufete bem dado na cara e uma conversa depois da apuração dos votos.
Nordestino quando dá para gostar de política, fica insuportável.
Inventado por: Henrique Neto às 11:05 | Link |
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