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20041219
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'O silêncio q precede o esporro'
O Rappa se ronova em seu mais recente disco e preenche a falta de Marcelo Yuka na composição das músicas com scratchs e outras firulas eletrônicas.
O disco é cheio de referências ao funk carioca – Falcão canta como MC na maior parte das músicas – e à obra de Wally Salomão, entusiasta da banda. Diferentemente de 'Lado B, Lado A' (seu penúltimo disco) onde as letras eram abundantes em qualidade e simpatia, além do trabalho da imagem nos clipes que já figuram entre os melhores da nossa música, em 'O silêncio...' a produção de Tom Capone teve papel importante, se não decisiva, pois o conteúdo não é assim uma Brastemp, apesar de grudar.
Ao vivo, disse-me quem já viu, a banda excede. Agora se no palco Falcão domina, com papel e caneta na mão essa força nem sempre se verte em letras nota dez. Contudo, o disco não chega a ser ruim, é apenas inferior ao anterior. Peca – talvez para os bairristas mais dedicados – pelo fato de trazer muita referência carioca, mas que mal há em se cantar sua terra?
Por fim, é um disco para se ouvir de controle remoto em punho. Se você não tiver nada contra a música dos morros cariocas nem vertigem, ouça aos pulos.
Inventado por: Henrique Neto às 14:53 | Link |
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20041216
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Tu, que...
Tu estás cansado, vês. Basta que olhes no espelhos para ver teus olhos esmaecidos. Admitas, sabes que o cansaço há tempos chegou e não dá dica que pretenda partir. Resigne-se. Tu que agora sai às sextas como não fizestes em teus dias de solteiro, tu que abandonas comodidades em busca de... Em busca de sabe deus o quê. Esse mesmo deus minúsculo em que só tu crês. É melhor mesmo que admitas.
Sabes que ao chegar em tua casa, deitar em tua cama e pensar no porquê de tanta precipitação em tua vida, lembrarás das lutas inglórias que encarastes sem esperar qualquer porvir. Sabes, não sabes? Sabes também (assim como eles) que não eram bem esses seus planos. Pensavas em uma juventude duradoura onde a ordem era não tê-la. Viverias cigano pelo mundo, como naquela manhã de domingo em que mandasse às favas teu concurso tão desejado – por ela, não por ti. Sabes também que a chaga que hoje trazes, foi fruto de arranhado, coisa pouca que só tu sabes como alimentar.
Mas, não admitirás nunca, não é mesmo? Jamais dirás que estivesse errado, falando demais e chorando pelos cantos da velha casa do pai. Errastes sim, mas sem expectativas por confissões expontâneas ou coisa parecida. Não dirias isso assim sem antes travar o cérebro com essas bebidas fermentadas, ou outras maneiras corriqueiras de entorpecer a alma. Não tu, um lorde que és!
Dissestes, e isso não faz muitos dias, que ao voltar de Natal, farias festas nababescas para reunir amigos, contar das peraltices, mostrar os últimos discos e tentar, ainda que de maneira vã, pôr um pouco de cor no teu prato. Farás essa festa ainda? Perdestes, pelo menos, àquela tua mania de velhice, formalismos e tons beges? Ostentas ainda o chapeu de outros dias ou suspensórios para reclamações que ela te fará?
Desse-me conselhos até outro dia, mas não praticastes o que diziam tuas palavras (puro esquecimento, dirás). Sabes, contudo, que não é fácil os dias que correm a perda do encantamento, teu trabalho monótono e as intermináveis seções de cinema. Pensas em, qualquer hora dessas, voltar para Caicó. E lá, como dizes há meses, quem sabe montar a tão sonhada agência de carros. Tudo isso, menos ficar em tua casa, onde não encontras alento nem hoje e sabe deus – o minúsculo – quando.
Inventado por: Henrique Neto às 23:41 | Link |
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20041211
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Regionalismos Potiguares
Cabra posudo é gabola
Otário é abigobel
O chato é galado
O puxa saco é xeleléu
Nego alto é galalau
Botão de som é pitôco
Se é muito miudo é pixotinho
Se for fresco é catôco
Tudo que é bom é massa,
É arretado, é primeira
Tudo que é ruim é peba
Também pode ser reiêra
Moça nova é boysinha
Mulher solteira é caritó
A galinha é inxirida
Lança perfume é loló
Ponta de cigarro é piúba
Bordel se chama Berel
Longe é 'a casa da mãe pantanha'
É lá na casa do chapéu
Rir dos outros é mangar
mexer os quartos é mengar
Quem observa fica cubando
Faltar aula é gazear
Quem é pálido é impalemado
Quem é franxinho é xôxo
O bobo se chama leso
O medroso se chama frôxo
Pernilongo é muriçoca
Chicote se chama açoite
Quem entra sem licença imbioca
Sinal de espanto é votzz!
Tá com raiva tá invocado
Vai sair, diz vou chegar
Caba sem dinheiro é liso
Dar um amasso é sarrar
Muita coisa é ruma
se tá folgado é folote
Pouca coisa é tico
Uma turma é um magote
O tímido é bizonho
Tá de fogo, tá melado
O surdo se diz môco
Quem tem sorte é cagado
Pedaço de pedra é xêxo
Ladrão pequeno é xexêro
O mesquinho é amarrado
Caba safado é fulêro
Papo furado é aresia
Nêgo insistente é prisiaca
se for pior se diz frechado
Catinga de suor é inhaca
Sujeira no olho é remela
Toca disco é radiola
Meleca se chama caraca ou catôta
Peido se chama sola
Mancha de pancada é roncha
Briga pequena é arenga
Performance é munganga
Prostituta é kenga
Bola de gude é biloca
Fofoca é fuchico
Estouro é pipôco
Cu aqui se chama furico, bóga, zeguelé, frinfa,
anel de couro, lata de doce...
Autor: Cleudo Freire
PS.: Os quase dois leitores desse blog irão notar que essa é a terceira vez que publico esse post.
Inventado por: Henrique Neto às 14:57 | Link |
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20041210
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Da arte de consertar fogão
A culpa é dos restaurantes 'self-serve'. É por causa deles que o mundo está perdido desse jeito, minha senhora. Eu falo porque sei. Conserto fogão há mais de quarenta anos, e quer saber? No tempo que não havia 'self-serve' a perdição do mundo era menor. Quando a família se reunia na hora da refeição, pai na cabeceira e os filhos em volta, eles tinham mais noção das coisas do mundo.
Não acredita? Deixe eu lhe dizer melhor, então. No tempo em que o homem tinha de sair de casa para buscar o sustento e a mãe ficava cuidando dos filhos, cozinhando, limpando, deixando a casa em ordem, não tinha esses absurdos que a gente vê no noticiário, não. Dava gosto entrar numa casa de família para desemtupir a boca de um fogão, fazer funcionar o forno, ou só dar uma geral. Você sabia se a dona de casa era das boas só em ver o fogão dela. Essa casa aqui é bem cuidada, a esposa faz os gostos do marido, trata bem dos meninos. Essa aqui não. Porca como é, deve ser um estorvo pro coitado quando chega cansado do trabalho. Ele já deve estar tão farto que até arrumou uma amante. Hoje se falar um negócio desses, vão te chamar de machista e não sei o quê mais lá.
Era assim, minha senhora. E olha que eu atendia de palacetes à palafitas, heim. Não tinha jeito, independente do dinheiro que entrava, o fogão dizia quem era quem nesse negócio de ser 'do lar'. Hoje não. Ninguém mais quer cozinhar em casa. Agora é homem para um lado e mulher para o outro. Quem quiser que tire o prato do congelador e esquente no microondas que ela mesma não pisa nem lá. Os que podem pagar uma empregada talvez até vejam a cor da comida caseira, mas esses assalariados que tem por aí, sei não... Como se não bastasse esse negócio de comida no peso, ainda tem mais o tal do microondas. Já disse a dona da pensão: – olha nega, microondas aqui em casa só depois que eu morrer!.
O negócio de arrumar fogão está tão ruim que tive até de diversificar os negócios. Agora faço material de limpeza em casa e saio vendendo numa kombi que comprei financiada. Não dá tanto quanto o negócio dos fogões na época boa, mas livra pelo menos o dinheiro da carne no sábado. Tem de correr, não é? Quem fica parado é poste, não eu. Ando por aí com minha malinha, comprei uma celular – desses à cartão – pintei o número na mala e corro atrás. Tem dias que ando muito para poder consertar dois fogões. Para piorar, o povo no fim-de-semana em vez de ir para a cozinha, liga para um tal de 'deléveri'. Ora 'deléveri'! E isso lá é nome de lugar para gente de bem comer!?
Agora taí, minha senhora: 'self-serve', 'deléveri', microondas e é um tal de filho enfrentar pai, irmão estranhar irmão que dá até desgosto, viu. Quando eu aprendi esse ofício com meu pai, que tinha aprendido com um tio quem criou ele, pensei: - vou enricar arrumando fogão, porque comer todo mundo come e comida, se num for plantada, tem de ir para o fogo. Nem imaginei que aconteceria uma acanalhação dessas... De uma coisa eu desconfiei, esse negócio do cabra comer uma comida que não é feita na sua casa só podia acabar em coisa ruim.
Mas eu não desisto não, minha senhora. Ouvi dizer até que já tem um fogão lá no estrangeiro que nem fogo tem. Ora, fogão sem fogo, quem já viu uma arrumação dessas? Vou continuar com minha malinha e onde tiver alguém queimando só em duas, três bocas, eu vou lá resolver o problema. Meu orgulho disso, sabe? Quando acabo meu trabalho e me oferecem um café quentinho além de receber a paga, é uma satisfação danada. Qualquer hora dessas o povo da prefeitura vai sair fechando esses restaurantes boca-de-porco e o povo vai voltar a comer em casa. Aí a senhora vai ver o que é bom. O mundo vai voltar a rodar nos eixos e o povo vai até dormir de porta fechada sem ferrolho.
Inventado por: Henrique Neto às 20:12 | Link |
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20041207
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Família
Calçada não é um lugar de aconchego. Invariavelmente suja, esburacada, mal ocupada, a calçada pressupõe passagem, parada dos que sentem vertigem, vendem baganas, batem carteiras ou fazem ponto, mas nunca lugar apropriado de descanso, nem de homem em queda livre.
Chego ao ponto de ônibus e moças inquietas preocupam-se com o homem que cai e bate a cabeça. No meio-fio rebaixado, a poucos centímetros da avenida de carros velozes, um corpo padece. Chamam minha atenção, pedem minha ajuda, atravesso a avenida e vou até o encontro do desconhecido que desfalece. Embriagado mas ainda desperto, tentamos descobrir se reclama de alguma parte sua que tenha quebrado ou saído de operação.
Chamo o resgate, o homem chafurda na poeira enquanto clama pelo cancelamento da ligação e pragueja a família. Qualquer família, ainda que a sua própria. Consigo arrancar dele, apesar da voz pastosa e confusa, um número de telefone e seu nome. Era desses ditos de forma diminuta e inexpressiva - Toninho, se não me falha a lembrança.
Ligo. Do outro lado um paulista seco e objetivo desconfia do fato de eu saber o nome do seu pai. Digo da queda, dos carros, da calçada, da pancada na cabeça e em resposta, ouço algo como: "– beleza, estou indo até aí".
Passam longos trinta minutos. O homem pragueja contra a esposa, os filhos, o casamento e tantos outros ícones da sociedade quanto sua memória permitiu. Ligo de novo para casa do senhorzinho, dessa vez atende uma menina que, mais amável, tem a decência de agradecer pela ajuda e preocupação com seu pai. O fraco que agoniza histérico por socorro.
Um carro pára a vinte e tantos metros de nós. Desce o paulista objetivo de ar impávido, cabelos compridos denunciando sua condição abastada, e uma pose de desdém de virar as bolas. Grunhe algo que imaginei ser um 'boa noite!', olha o pai no chão de soslaio, não lhe dirige a palavra, volta para o carro, fala com a mãe aponta para nós e volta para próximo da roda onde seu pai é o centro.
A mulher engata uma ré, para mais próxima a nós, não desce do carro, esboça um agradecimento constrangido. O senhorzinho fracassado agradece cheio de ironias. O filho não move um cílio para levantar o pai do chão. Nós o içamos sozinhos, o colocamos no banco de trás do carro e a família parte em disparada pela noite de São Paulo.
Eu estava com essa seqüência inverossímil na minha cabeça desde ontem e até agora – dez e quarenta e sete da noite de uma terça – não consegui me conformar que essa cena toda se deu e não foi no plano das lorotas.
Inventado por: Henrique Neto às 22:53 | Link |
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