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20060430







Dos sonhos

Quando vejo propagandas de cartão falando em ‘sonhos’, penso em quão errado é meu conceito acerca dessa palavra. Sonhos para mim são, invariavelmente, fonte de angústia e desassossego. E nessa noite não poderia ter sido diferente.

Novamente você morreu, e novamente tinha choro, guirlanda de flores (dessa vez eram negras), desespero, ressentimentos, eu sendo encorajado a deixar, seus cabelos negros, seu semblante plácido; e era o inferno outra vez, e de novo, e de novo.

Eu confesso que tenho medo de dormir. Muito por isso adoro a noite, sair para badalar, ver gente, rir. O contrário desses sonos pesados, desses sonhos malditos. Malditos. Eu não quero mais sonhar porque é sempre essa merda, você morrendo, os gritos, o caixão caro e de mau tom - como são sempre todos os caixões do mundo -, seu semblante plácido e... chega.

Odeio sonhar. Odeio sua lembrança, essa sombra pesada que tenta a todo custo se projetar sobre mim e eu não quero. Faça-me um favor. Morra!

Mas só se for de uma vez por todas.





Inventado por: Henrique Neto às 19:09 | Link |

20060428






Não vá se perder por aí!





Inventado por: Henrique Neto às 18:02 | Link |

20060427







Mini certezas


No dia em que Camilla Delvechio deixou o bilhete derradeiro em minha casa, abandonei um pacote de mini-convicções. Vendi o papa-gaio, paguei a ultima parcela do IPTU, comprei mexerica na feira e fui visitar minha avó que mora lá na Vila Brasilândia. Tudo isso (claro!) para mostrar que eu estava bem e nada havia mudado.

Por que um homem de brio e barba bem escanhoada, jamais admite uma perda. Menos ainda quando tem um ser de cara raspada na outra ponta da história. Os pragmáticos darão a isso o nome de 'chifre', ja eu prefiro 'perda' para a coisa não parecer tão rude. Contudo, para além da questão estética, Camilla Delvechio foi embora para outras paragens, e a essa hora arruma seus parangolés na gaveta de outrem.

Camilla Delvechio era meu norte e apesar de não ser chegada nas artes da cozinha, tinha um incrível senso estético na escolha das estampas de minhas cuecas de seda (sim, cara radiouvinte, a estampa da cueca diz muito de seu dono). Possuía também, um jeito muito seu de fazer cálculos, que logo foi apurado com requintes que estavam mais para o circense que para o cartesiano; seu humor matinal beirava o inverossímil e a forma oblíqüa como dizia 'obsoleto', me fazia rir a cada pronúncia.

Numa mesma semana, Camilla se foi junto com todas as minhas economias. Mais desgraça que essas, só se eu batesse o carro ou recebesse uns parentes do interior que viessem passar férias em minha casa. O mundo anda mesmo complicado, já me dizia àquele senhor que conserta fogões. 'Daqui à pouco serão os postes quem mijarão nos cachorros'. O desalento me dava impulso para desenvolver minha verve de filósofo de boteco.

Saí de casa sem muitas certezas e fui caminhar na Paulista. Somente depois de ter comprado um maço de cigarros, é que me dei conta que não fumava. Desviando de mendigos, bicicletas, cachorros cagões e das lembranças de Camilla Delvechio, finalmente cheguei à Consolação. Lá me senti mais seguro e vi que nem tudo estava perdido, pois apesar de tantos ais, na fachada da livraria Belas Artes ainda se podia ler em letras garrafais: 'aberta todos os dias do ano'.







Inventado por: Henrique Neto às 21:20 | Link |

20060426







Praia da Costa


Como seria voltar à cidade depois de três anos?

Que surpresas lhe estariam reservadas a partir do momento em que botasse o pé fora do avião?

Laura abstraía totalmente essa possibilidade.

Não faz muito que conseguiu esquecer daquele romance, inferno e céu de sua temporada capixaba. Lembrava dos dias de sol na Praia da Costa, de sua casa branca e sempre muito iluminada, dos discos de João tocando na radiola recém comprada, das longas caminhadas na areia da praia e da sua paixão.

As paixões...

Laura começou econômica, pensando tratar-se só de desejo. Se segurou quando sentiu os sentimentos se avolumarem. Enlouqueceu ao ver-se tomada, e pensou viver por toda vida naquela cidade aparelhada pela novidade.

As paixões...

Faz dias que ela escreve – e depois apaga, para tornar a escrever e apagar de novo – uma carta onde, em três páginas, se rasga em juras, concessões e roga por atenção do ‘seu’ amor.

Uma mulher com mais de trinta, solteira e com uma paixão mal curada, é capaz de atos nunca dantes publicados.

As paixões...

Laura, enquanto busca na bolsa o maço de cigarros, pede ao motorista que a leve ao número 130 da avenida Hugo Musso.

– Praia da Costa. Isso mesmo, moço!





Inventado por: Henrique Neto às 17:35 | Link |

20060419






Diogo Mainardi é uma besta!


E a partir desta premissa podemos seguir com a conversa.

Acabei de ler a entrevista dele na Trip - a melhor revista brasileira - e pude por fim concluir o que há um tempo desconfiava: o cara é o típico pseudo-intelectual pretensioso, insolente e vazio.

Foi um festival de respostas com a profundidade de um pires de leite, tentativas de de dizer coisas inteligentes a respeito de si, e nas entrelinhas, dá para ler frases do tipo: "observem como sou inteligente, culto, viajado e como estou bem nessa pose acima do mal em que me coloco", ou ainda: "sou o ser inatingível", como ele mesmo se autodenomina.

Já li alguns artigos publicados pelo colunista e sempre que o faço, me vem a mesma ideia: "é uma besta!".

Adoro os reacionários - os verdadeiros - e acredito que eles têm um papel fundamental na sociedade. O Nelson Rodrigues, para citar um bom exemplo, era questionador, enquietante, mexeu com a sociedade mas, o grande lance nisso tudo é que, por trás da figura pública controversa, havia um grande intelectual com uma obra sólida. Um legítimo reacionário.

Já no caso do nosso pretenso colunistinha, qual a importância da sua obra? Aliás, há lugar mais apropriado para vomitar suas bravatas pretensas que na revista Veja?

"- Ah, Henrique, mas o rapaz polemiza!" Dirá você, generoso leitor destas mal traçadas linhas. E resposta te direi: a Carla Perez também polemiza, e daí? O quê nos acrescenta as polêmicas da ex-dançarina-e-atual-sei-lá-o-quê?

Diogo Mainardi, se tem uma figura pensante e polêmica nesse país, ela se chama Ariano Suassuna (que aliás, não paga de intelectual pedante). Portanto nêgo, abaixa a bola vai!



Publiquei esse post em 09/12/03. Incrível, mas ele continua atual.

***

Não. Eu realmente não tenho nada a declarar sobre a separação de Carla Perez e Xandy.





Inventado por: Henrique Neto às 17:51 | Link |

20060413





Re-postando

Publiquei esse texto pela primeira vez, na Sexta-feira Santa de 2002. Para quem não o conhece, aqui vai ele de novo; para quem já leu, divirta-se novamente.


A Minha Velha Semana Santa

Estava eu curtindo o feriado, todo pimpão, quando lembrei da minha infância (calma, não vou fazer terapia falando dos meus traumas) e da época da Semana Santa lá em Espírito Santo - RN. Aqui no Sudeste só se tem o costume de celebrar a páscoa, lá no Nordeste não, a última semana da vida de Jesus é celebrada por inteiro.

Nas casas onde as famílias eram católicas mais fervorosas, todos os quadros eram virados contra a parede ou cobertos com um pano. Este ato, se não me trai a memória, simbolizava a compaixão pela dor de Jesus Cristo. Na Sexta-feira da Paixão, comer carne nem pensar. Ouvir música ou ligar ar TV também não era bem visto. E se de novo não me engano, algumas pessoas também não achavam muito certo a prática do banho.

A tradição (e a pobreza de alguns mais necessitados que se aproveitavam da data) mandava que as crianças saíssem de porta em porta pedindo esmola. O dono da casa que não atendesse aos pedidos – que eram muitos –, estava cometendo um pecado. Dos grandes. Ir pedir benção aos padrinhos nesse dia – 'abença', como ainda hoje se diz por lá – era um excelente negócio, pois eles eram 'obrigados' a dar a 'esmola' aos seus afilhados.

O melhor, porém, era na sexta-feira à noite. No único cinema que havia na cidade (o de Zé Onório), era exibida sessão do filme 'A Paixão de Cristo'. A cópia do filme era tão velha, que arrebentava várias vezes durante a projeção, obrigando o pobre do Maninho – projetista do cinema - a cortar um pedaço da fita e remendá-la com durex. Não precisa ser muito esperto para sacar que, ano após ano, o filme ia ficando mais curto. Mas o pior mesmo, era quando a fita começava a pegar fogo e se via na tela as labaredas.

Como o cinema era pequeno e tinha muita gente para assistir ao filme, era necessário fazer várias sessões. Chato era quando tínhamos que aguardar a fita vir da cidade vizinha, onde o filme “passava” primeiro - no outro cinema de Zé Onório. Qualquer semelhança com Cinema Paradiso não é mera coincidência.

Para terminar a Sexta-feira da Paixão em grande estilo, após a meia noite era feita a tradicional malhação do judas. Mais tarde comíamos galinha caipira que, necessariamente, tinha de ser roubada do quintal dos vizinhos ou nos sítios.

Bons tempos aqueles.

São Paulo, 29 de Março de 2002


Inventado por: Henrique Neto às 14:22 | Link |

20060404







Só um chopinho!

Adalberto, um magro tísico com um quê de Noel Rosa, está excitado desde terça-feira. É que bem às três da tarde, hora em que religiosamente toma seu cafezinho com duas gotas de adocyl, Neves (um colega do curso de contabilidade) ligou marcando um chopinho para sexta-feira depois do expediente. Adalberto já confirmou presença.

Ligou para a mãe, constrangidíssimo, avisando que na sexta ela jante sem ele, pois terá de fazer serão. Adalberto não gosta de mentir, menos ainda para a mãe, mas vá ele contar que vai tomar um chopinho tímido com um amigo para ver se ela deixa.

Adalberto ficou muito feliz com a ligação do colega. Ninguém – exceto a mãe passando a lista da farmácia – lhe telefona. Solteiro, perto de completar cinqüenta e dois, ele tem uma vida tão reta, que faria Madre Teresa de Calcutá parecer uma indecente. Nessa sexta porém, a história vai ser outra. – Vai que o Neves o convida para dar uma esticadinha? – pensou em voz alta.

A semana passou com dias de setenta e duas horas cada, tamanha a agonia de Adalberto. Na sexta-feira quando o relógio cravou seis da tarde, seu chefe lhe chamou para uma reunião de última hora. Ligou para o colega, avisou que se atrasaria e pensou que ia enfartar, tamanha raiva que teve do chefe. Reunião terminada, Adalberto dispara para o bar.

Cumprimentos vão, fofocas vêm, lembranças do tempo do curso, comentários sobre os decotes das colegas de classes – umas balzacas bem falhadas, é bom que se diga –, algumas palavras mais indóceis endereçadas ao professor de contabilidade rural, e entre uns goles mais vigorosos, Neves manda a seguinte bravata:

– Amigo, finalmente encontrei a solução para o seu problema de peso!

Orquestrado com essa frase de calibre grosso, Neves saca da pasta um pote de ShapeWorks.

Ah esses vendedores de Herbalife, sempre tão astutos!





Inventado por: Henrique Neto às 16:05 | Link |

20060403







Maraca

Tarde de domingo - Maracanã - Brasil





Inventado por: Henrique Neto às 13:34 | Link |





































blogchalk: Henrique /Male/26-30. Lives in Brazil/Sao Paulo and speaks Portuguese. Spends 70% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection.


































































Tá procurando o quê aqui embaixo???
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