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20050830





Por que Xico Sá nos ensina a viver uma vida mais edificante


Uma mente sadia pensa em putaria pelo menos 98% do tempo útil. Isso, claro, considerando as pessoas comuns que não têm na vida travas como sonho de consumo. Aliás, desconfio muito de quem se diz pudico, e não preenche seus pensamentos com os assuntos da arte do bom-viver.

Pode haver mente mais doentia que a da pessoa que se presta a viver para uma religião? Não senhoras e senhores. Quem leva uma vida dessas se sente tão sujo, mais tão sujo, que a religião vira sua tábua de salvação. Entoar cânticos, pregar “A” palavra e tentar converter infiéis é coisa de quem tem pau pequeno, é broxa, veado enrustido ou um mix dessas três modalidades de vida insossa. Não há outra explicação minimamente digna, para justificar tanta perda de tempo.

Almas perturbadas, só vocês para deixar o mundo mais amargo e sem gracinha. É por sua causa e dessas teorias esgarçadas de um mundo mais santo, que há tanto homem-bomba, padre com síndrome de Michael Jackson e outras aberrações envolvendo animais, excrementos e tacos de baseball.

Se deixassem fluir em suas mentes estéreis, toda a riqueza que há na arte do sexo, os profissionais da psicanálise, polícia e oncologia teriam de enveredar por outros ofícios menos inglórios. Mas, como nessa vida para tudo há remédio, permita-se experimentar os doces prazeres da carne antes que a morte o carregue sabe-se lá para onde.

Comece modesto requisitando os serviços das moças da noite. Elas, sempre solícitas, não reclamarão em lhe ensinar os princípios básicos da arte de perpetuar a espécie. Mas se não for essa sua praia, tome coragem e se declare para seu aspirador de pó, ou quiçá, para o português da padaria. Ele – o aspirador - não vai se sentir ofendido. Juro!

Se jogue (como dizem os fleumáticos rapazes de hoje). Pode ser que amanhã - já muito tarde -, seu aspirador resolva fugir com a TV rumo a uma impublicável história de safadezas, capaz de enrubescer até os pseudo-despudorados de nascença, como Xico Sá.





Inventado por: Henrique Neto às 16:46 | Link |

20050829





O Triste Fim de +Sarina S.


Ela assinava como "Sarina S.". Durante muito tempo a polícia acreditava ser apenas seu apelido (nick, como dizem os informáticos roots). Estavam enganados, era esse, por extenso, o nome da moça que cometeu o maior crime da história da net brasileira.

Tudo começou quando Sarina S., um tanto fatigada de sua vida pequeno-burguesa em Natal, entrou para o mundo das BBSs. Nessa época os poucos afortunados que tinham acesso a internet – paga a peso de ouro –, gastavam seu tempo em salas de bate-papo. Da BBS para o mIrc foi um pulo e foi nessa que Sarina S. se tornou "OP" de uma destas salas.

Para quem não lembra/ conhece, OP era a designação dada às pessoas que administravam uma sala de chat. Esses OPs tinham seus apelidos acompanhados do sinal de +. Estava então criada a cyber-persona +Sarina S.

+Sarina S. tinha vida dupla, durante o dia freqüentava um curso de jornalismo e publicava um fanzine de moda, à noite comandava um exército de súditos na disputadíssima sala de bate-papo onde suas falas eram proferidas. As testemunhas de tal acontecimento juravam tratar-se de verdadeiros happenings.

Não demorou para seus ensinamentos tomarem as ruas de Natal. De Potylândia à Gramoré todos seguiam as instruções de +Sarina S. Lá ela ditava moda, vocabulário, hábitos de consumo e outros tantos parangolés.

Nas madrugadas da terra mais bela de Poty, os sons dos modens ecoavam pelas bucólicas ruas assustando cachorros, bêbados e guardinhas desavisados. Era a rede se formando para beber da sabedoria d'Ela, a OP das OPs.

Surgiram várias suposições sobre quem era e como vivia +Sarina S. Uma das teorias mais críveis era a de que ela vivia sozinha numa casa às margens da Lagoa do Bonfim, e de lá não saía nem para ir ao mercado comprar mantimentos. Diziam ser uma moça alta, esguia, morena, de olhos negros e cabelos estrategicamente desgrenhados. Nunca se provou tal teoria.

Em louvor a novíssima Cyber-Deusa, rituais eram feitos na Praia dos Artistas nas noites de lua. Escolares organizavam flash mobs em plena Praça Cívica, na Bernardo Vieira e em outras partes da cidade. Hordas de rapazes fizeram voto de castidade para +Sarina S. Ouviu-se falar, inclusive, de uma comunidade formada na Cidade Satélite, onde seus participantes viviam enclausurados em uma casa de apenas dois quartos.

Com todo esse frisson juvenil, foi formado um elaborado esquema de pirâmide financeira gerida pelas pastoras (eram todas mulheres) da nova seita auto-intitulada Adoradores da Cyber-Deusa dos Últimos Dias. As contribuições eram vultosas e Sarina S. acumulou fortuna num esfregar de olhos.

Esse fato, somado à radical mudança de comportamento dos jovens natalenses, fez com que a Polícia Federal fosse em busca de +Sarina S. – o mito.

Desmantelada o esquema da pirâmide, a hierarquia da seita e suas principais articuladoras, +Sarina S. se viu obrigada a fugir para o sudeste. Hoje, entre trabalhos para um canal de televisão famoso, participação em badalados filmes do grande circuito e um saudosismo dos seus áureos tempos, ela tenta remontar sua rede, só que agora se utilizando do Orkut, o hit do último verão.





Inventado por: Henrique Neto às 15:46 | Link |

20050826






Direto do frio de São Paulo


- Ouvindo Los Hermanos 4 e tentando entender o que pensei já ter entendido.

- Conhecendo a música dos Beasties Boys com duas décadas de atraso.

- Ensaiando a compra de dois galões de água.

- Fazendo uma lista de supermercados que nunca termina.

- Leitura diária de textos eletrônicos. Os livros sobrevivem (apesar da banda larga).





Inventado por: Henrique Neto às 12:17 | Link |

20050824





Da memória que meu corpo tem d’Ella

Ella, elegante em seus taillers franceses e na sua maneira glamourosa de atravessar a rua, reclama do trabalho, do seu chefe, das amigas que se foram e se pergunta até quando suportará esse peso todo. Ella já não vem com a mesma freqüência receber os dengos que eu lhe sorvo, com devoção de menino trancado no banheiro às voltas com a descoberta dos prazeres mundanos.

Em outros tempos, Ella exigia janelas escancaradas de par em par e vizinhos como testemunhas de nossas viagens insólitas na arte do bem-viver. Ella gostava de ser visitada antes de dormir, no amanhecer e/ou em todo lugar e hora em que houvesse um canto para a gente se aninhar. Ella é do tipo perfeito, daquelas que pregam a filosofia do: já-que-não-tem-nada-para-fazer-façamos.

Era na hora maior onde Ella perdia a linha, esnobava os bons costumes, cuspia na decência e acreditava que vizinhos foram feitos para serem incomodados, ainda que fosse alta a noite. Mulheres com esse senso de urgência, são fundamentais para o bom andamento da humanidade. São elas os verdadeiros pilares da economia.

Ella - que entre uivos, unhadas e mordidas fundamentais para meu corpo, se descabela e bagunça a noite dessa cidade - sai para a rua como uma santa aparelhada de óculos e batom, desfila lânguida entre carros, moto-boys, viúvas e cachorros cagões, saltando aos olhos de quem se cansa de olhar o cinza chumbo da paisagem, o hit desses dias de sol.

Ella é meu private espetáculo. Nos dias em que não vem, as doces pássaras que pousam em minha alcova servem apenas para reforçar uma antiga desconfiança: a de que sem Ella, meus dias são em branco e preto.





Inventado por: Henrique Neto às 10:10 | Link |

20050823





Estudando a Palavra

Era só a intenção de escrever um texto que fugisse do famigerado tripé amor/flor/dor. Os modernos chamarão a isso de ensaio. Já eu, mais modesto, digo que é só uma tentativa. Oficina da palavra. Oficina da escrita em meio aos compromissos que pagam o aluguel e a fatura do cartão de crédito. Um hiato - praticamente.

Era para dizer de subtextos, de atos que transcendem qualquer palavra e outros pontos mais sutis do cotidiano que me escapam (sempre penso em escrever sobre essas sutilezas, mas elas são mais leves do que imagino). Não sou um bom caçador da matéria pouco densa, mas a observo de longe, ainda assim. Estudo maneiras de como dar um bote certeiro.

Uma ligação que deixou de ser feita pode dizer mais que as consumadas, um vacilo na sua voz, o silêncio entre frases, seu jeito polido, um sorriso ensaiado, tudo parece verter palavras. É a essa leitura que tenho dedicado meus dias. Cavucar o menos óbvio, observar a moça de olhar lascivo que passa discreta por trás do tumulto, entender a postura dos que queriam outra coisa, outra pegada da vida.

Borboletas que se debatem no ar colorindo o cotidiano, mandando mensagens elaboradas à nossa percepção pobre, como decifrar tão nobres signos? Por onde andará o bloco de notas? Por onde começar essas notas mínimas?

A dúvida freia, a memória apaga, mas a sensação de dejavù já é.

Um filtro polarizador instalou-se em minha retina – acredito eu –, ele separa em gamas de cores as imagens, faz a passagem de luz ser mais fluída que o esperado, congela o instante entre atos, reverbera o som de murmúrios, captura momentos de abstrações e diz dos outros o que até então era guardado em segredo de família.

É história mais elaborada que música de Baden Powel. Sua audição é tão prazerosa que uma vez exposto, você estará profundamente marcado. Tal como amor amancebado.

Inventado por: Henrique Neto às 13:00 | Link |

20050822





Forró

Ontem acho que tinha alguma promoção para as "Tatianas" e todas as variações – inverossímeis ou não – desse nome no forró. Só eu dancei com pelo menos umas três na seqüência. Imagino que devia ser algo do tipo: pague a entrada de uma e a outra Tatiana sai de graça, ou coisa parecida.

Mas o ponto não é esse (até porquê todas as Tatianas além de bonitas, dançavam bem e eram muito educadas), vim aqui a essa hora da noite, para falar da pena que tenho dos paulistanos e paulistas, quando o assunto é dança de par. Absurdo como esse povo tem modus operandis para tudo!

Aqui vai um conselho desse nordestino aos jovens mancebos de Piratininga: o forró é uma das últimas danças onde a gente dança agarradinho. Sendo assim, relaxe e a-pro-vei-te.

Falo isso porque dá pena ver os rapazes dessa cidade fazendo a coisa com um certo 'nojinho', e dançando a quilômetros das moças.

Já que vocês preferem levar a vida by the book, eis a receita para se dançar o genuíno forró com a benção de nosso senhor Luiz Gonzaga (salve-salve!):

1 - pegue a morena pela mão e traga ela até você;

2 - agarre a moça pela cintura com a mão direita e com a esquerda, segure a mão dela. Para os canhotos é só inverter as mãos (é óbvio, Sandy e Júnior!);

3 - traga o corpo dela colado ao seu e em seguida, coloque sua perna direita entre as dela;

4 - samba-rock é uma dança e forró outra portanto, PÁRE com essa palhaçada de ficar dando voltinhas na moça! Se quiser ensaiar um passo de rockn' roll retrô, vá ao Café Piu-Piu e não a um forró;

5 - agora a regra mais importante de todas: nunca, jamais, deixe que a mulher conduza a dança. Você, tigrão, é quem deve guiar os paços da moça. Isso é tão importante quanto Gênesis para a bíblia.

No mais, é só curtir o cheiro do cangote das meninas, seja ela Tatiana, Aline, Priscila, Ana Flávia, Patrícia, Juliana, ...



Inventado por: Henrique Neto às 00:52 | Link |

20050819




Peixe Coco





Essa é para quem é do RN e está aqui em Sampaulo, ou também para quem não é, mas vive por essas bandas.

Seguinte: domingo agora vai rolar show do Peixe Coco, uns caras lá de Natal que mandam bem no quesito rock.

Fui apresentado a música dos conterrâneos sábado passado, e já baixei algumas no meu iPod (viste o site deles e faça o mesmo).

Apareça por lá para a gente tomar uma cerveja e escutar música boa.


Serviço:

21.08 (domingo, 18h.) Demo Fest, no Dynamite Pub (Cardeal Arcoverde, 1857, esquina com a Mourato Coelho). R$ 8.
24.08 (quarta-feira) . Milo Garagem (R. Minas Gerais , 203 Higienópolis) +/- R$ 6.






Inventado por: Henrique Neto às 15:14 | Link |

20050818



Cachorro!

Havia uma vontade enorme de voltar para casa e ficar quieto, tomar um banho demorado, colocar àquele velho calção, ficar descalço e ouvir um som. Quem sabe até, redescobrir um disco há tempos esquecido na estante da sala e dependendo da disposição, tomar um vinho ou um café.

Era um fastio de gente, um desejo de não falar com ninguém e ficar só, malhando os pensamentos a fogo. Ficar quieto, bicho na gruta esperando o pêlo crescer na cara. Há dias de balanço para todos, meu caro jovem. Você também fica assim, a diferença é que sai para beber ou fazer compras.

Não queria interagir, não queria discutir idéias, expor as poucas que tinha. Era o momento só, onde a cabeça voa baixo, o pensamento fica elegante e os pés sentem os vãos que unem um taco ao outro. Providências de emergência incluíam: telefones desligados, secretárias funcionando e a torcida para o interfone colaborar.

Fastio total. Decepção total. Expectativas criadas sobre você, morena. Você mesma que compra flores aos sábados, é "adepta de uma vida mais saudável" (ao menos era o que estava escrito na bula), e não suporta tomar cerveja. Mas o que são as expectativas se não viagens internas, não é mesmo? Ninguém promete nada, a gente inventa de acreditar e lá se vai um mote para quilos de literatura barata.

Talvez – e agora eu já estou elucubrando – o problema seja tentar viver uma literatura barata. Sentimentos, subentendidos, sutilezas e outras coisas mais com a letra S, complicam demais o cotidiano. Há de se esquecer esses ideais românticos pois, ninguém é inocente ao som do pancadão. Nem mesmo as virgens nostálgicas do Jabor.

E viva os paulistas que têm na produtividade o seu Deus (isso sim é um povo prático). Interagir por conveniência, evitar a quem não se gosta, usar o telefone, a secretária, o eMail como escudos pode, sim, ser uma saída menos danosa. Condomínios contra os inconvenientes já.

E para acabar, um conselho: seja muito cachorro! Isso aumentará seu passe.





Inventado por: Henrique Neto às 20:19 | Link |

20050816



Conexão São Paulo - Barra do Cunhaú

Para Ed e Tânia



Era dessas manhãs em que a gente acorda o despertador
e vai para o chuveiro de olho no relógio
faz a barba com medo de perder o trem
pega o trem pensando no patrão
e chega no trabalho com saudade da cama.

Numa dessas manhãs cinzas
onde a gente - amarelo - se lembra do sol
do tempo em que ainda se ia à praia
e à noite pescar siri era coisa certa
e menino que foi fazer prova
e lembranças que refrescam a cabeça e aquece o vento
e planos simples com gosto de volta-para-casa.

Era a vida que vivia a gente de mansinho,
jornal acordando com cuidado
mundo mandando notícias de longe
as conversas no alpendre pela noite a dentro
risadas na mesa de bar
e as lembranças dos tempos de aperreio, menino novo e coletivo.

É um tempo como esse de agora
mas o sol na cabeça faz parecer eterno
assim como será amanhã
quando lembrar que hoje, de pinote,
corri para a máquina de fazer cartas
só para registrar essa musica bonitinha
que vinda de um sonho
entrou pela sala feito estouro de boiada.



Inventado por: Henrique Neto às 19:50 | Link |





Para os que ainda duvidam

Após reclamação feita por mim ao caro colunista da Tribuna do Norte, Woden Madruga, ele incluiu a pequenina Espírito Santo (salve-salve!) no seu boletim de chuvas.

Aqui a nota que saiu na edição de hoje do jornal:

---

"De chuvas

Estes agrestes daqui não têm do que reclamar de agosto. Continua caindo chuvas em seus tabuleiros e ariscos. No final da semana e de acordo com o boletim da Emparn (da sexta-feira para o amanhecer de ontem), choveu em mais de vinte municípios do Rio Grade do Norte. A maior chuva foi em Baía Formosa, 42 mm.

E mais: Nísia Floresta, 39, Ceará-Mirim, 33, Monte Alegre e Passagem, 31, Arês, 28, Canguaretama, 26, Boa Saúde, Várzea e São Gonçalo do Amarante, 23, Serrinha e Espírito Santo, 21, (...)".

---


E ai de quem ainda ousar duvidar de sua existência.





Inventado por: Henrique Neto às 11:37 | Link |

20050815





O Casamento Nos Tempos do Shopping

Foi difícil chegar até ali. Foram três anos gastos. A cintura parecia querer partir-se, a barriga fazia uma curva para dentro e o busto, então? Foram oito intervenções sem contar o nariz. "Estava linda", não cansava de ouvir elogios das amigas que o fazia num misto de inveja/bajulação.

Jorge não a procurava fazia meses. Ela andava meio sem disposição, logo agora que estava tão bonita, com trinta anos recém completos e totalmente "repaginada" – como disse seu cabeleireiro. - Ele devia agradecer a Deus pela mulher que tinha.

Não agradecia e tão pouco se importava com ela. Jorge chegava tarde e as raras conversas entre eles, se resumiam a diálogos curtos de respostas monossilábicas. Ele pagava as contas, ela as fazia e pronto.

Durante a semana saía todas as noites, dava uns beijos em algum garotão pé-rapado, pagava a conta e vez por outra ia para o motel. Tudo pago por ela, claro! Jorge, cada vez mais distante, não cogitava a hipótese da separação. A quebra do contrata previa uma multa salgada para ele.

Para receber seus garotões eventuais, ela montou uma garçonière num prédio discreto lá nas Perdizes. Jorge sabia de todos os seus passos, mas dissimulava. O apartamento passou a ser visitado com muita freqüência.

Numa terça à tarde, no calor seboso que faz no verão de São Paulo, Jorge entra quarto à dentro, dá dois tiros no michê, entrega a arma para Eliana e faz ela ligar para a polícia:

– Eu acabo de matar um homem. Fiz para defender meu casamento. Ele queria que eu contasse a meu marido que era meu amante. Eu não podia fazer isso com o homem que amo.



Inventado por: Henrique Neto às 16:40 | Link |

20050810





Boemia


Deus te livre dos boêmios. Dessa gente que vaga pela noite bebendo nos bares, discutindo o metafísico, indo em busca de amores descartáveis. Desses que vivem uma vida totalmente desregrada, que saem de casa quando todos chegam para dormir, e voltam quando o sol já avisa que é hora da lida.

Corra dessa gente que não tem pudores em aproveitar a vida, desses que fazem de tudo desde que seja bem depois da hora da Ave Maria. Não dê trela a esse povo que celebra – ainda que não não tenha o quê – pois, há mais densidade neles do que se pode suportar.

A pele curtida do sereno cria uma capa protetor, isso os deixam imunes aos sentimentos. Não se iluda, pois além da capacidade de absorver uma quantidade ilimitada de substâncias etílicas, eles também foram agraciados com o dom da palavra. Um perigo!

Não gaste seu rico tempo com esses que não usam sapato, não penteiam o cabelo, nem discutem aplicações em PGLB (que graça há na vida em se falar com alguém que não reclama do trabalho, do patrão ou fala mal de outrem?).

Imagina se quem bebe sem ser feriado ou dia santo, pode ser boa gente? Não é. Onde já se viu, querer levar a vida na noite de bar em bar, indo à festas e rindo de amenidades madrugada a dentro?

Fuja.

Mas fuja agora. Daqui a pouco pode ser tarde.





Inventado por: Henrique Neto às 21:14 | Link |

20050806



"A arte da fuga".



Inventado por: Henrique Neto às 20:50 | Link |

20050803



É só mais uma crônica urbana


"Deus mudou o teu caminho até juntar com o meu, e guardou a tua vida separando-a para mim.
Para onde tu fores irei, onde tu repousares repousarei.
Seu Deus será o meu Deus. Teu caminho, meu será.
 
Marinúbia e Edivan com a benção de Deus e de nossos pais, convidam para a cerimônia de casamento que se realizará em dezessete de setembro de dois mil e cinco, às dezenove horas, na congregação Assembléia de Deus Ministério do Belém"

Assim dizia o convite (descontados os erros de português).

A igreja se localiza num desses jardins da periferia de Osasco.

A família dela há um ano economiza para compra do enxoval, já ele virou praticante da modalidade do pagamento de carnês, esporte muito apreciado pelas casas varejistas. Comprou primeiro a mobília essencial, e só por estes dias conseguiu 'tirar' a geladeira. Vai pagar em trinta e seis vezes. 

Eles se conheceram num culto, desde então não se largaram mais. A família dela aprova o casamento, sabem que ele é rapaz direito, trabalha como ajudante de eletricista e ganha uns trocados fazendo bico num bufê.

Os irmãos dele estão fazendo economia, querem trazer a mãe da Bahia para o casório. Talvez não consigam. – Passagem aumentou demais, rapaz –, comentou com o sogro.

Vão morar num quartinho, nos fundos da casa da sogra. Engrossando as estatísticas, ela estará grávida antes do primeiro ano do casamento e muito provavelmente, será demitida quando retornar da licença maternidade. Enrolado com dívidas, Edivan tentará conseguir um emprego melhor, mas sem escolaridade é bem provável que consiga apenas se manter onde está, isso se o 'facão' não chegar nele também.

Como é sabido, donas-de-casa têm especial aptidão para a obesidade. Grávida do segundo filho e mais gorda que a mãe, Marinúbia se viciará em novelas e comprará revistas de fofocas com periodicidade religiosa. Com pouco dinheiro, muitas dívidas, dois filhos e um aperreio sem fim, Edivan largará a congregação para ter mais tempo para fazer bico.

A situação se normalizará por um tempo, até que venha o terceiro filho. Com tantas privações, essas crianças mal freqüentarão a escola, e com muita sorte concluirão o ensino fundamental. Já na adolescência, casarão com alguém da vizinhança e assim, darão continuidade a essa história que recomeça lá no segundo parágrafo.





Inventado por: Henrique Neto às 19:51 | Link |

20050802






Catinga


Havia três dias que alguém tinha notado. Foi dona Carmina, uma senhora viúva que morava em frente a igreja. Àquele cheiro não parecia com nada que os moradores conseguissem definir, sentia-se apenas uma fragrância que incomodava o nariz e fazia doer a boca do estômago.

O assuntou rapidamente dominou as conversas. Nas escolas, casas, na bodega de Bastião Coutinho ou nas rodas de sueca, era só do que se falava.

No quinto dia, na missa do domingo, o padre sugeriu que se fizesse uma busca em todo o leito do rio, podia ser que houvesse animal morto ou coisa que o valha. Pediu também que contassem os parentes para se certificarem de que não havia ninguém desaparecido. Criação ou gente, nada foi encontrado.

A pior hora era a do sol do meio-dia, o cheiro se tornava tão forte que crianças choravam em desatino. O povo estava assustado apesar das frustradas tentativas de manter o normal. No sábado seguinte, as quase dez barracas da feira estavam em frente ao mercado, mas não havia pessoa se quer para comprar, o cheiro tinha provocado uma onda de vômito generalizada, os poucos que ainda se aventuravam comer algo, o fazia de maneira frugal.

No décimo quarto dia o cheiro –até então indefinido– virou uma catinga da gota, e como um castigo redobrado, a cidade foi atacada por uma peste de moscas. O prefeito decretou estado de calamidade pública e se precipitou em direção à capital, em busca de ajuda do governo da província. Os mais abastados resolveram veranear antes da hora fugindo de tamanho mal-estar.

Missas foram rezadas em oferenda aos mortos na tentativa de se eliminar àquele inconveniente, o padre benzeu com água benta as quase duzentas casas da cidade, calçadas foram lavadas e re-lavadas, móveis e cômodos há muito esquecidos foram devassados em busca da razão de tanto fedor, mas nenhuma dessas medidas surtiram efeito.

O prefeito –com lenço em punho tapando o nariz– ofereceu três contos de réis para quem descobrisse de onde vinha àquele cheiro, que consumia a paz e o humor da cidade. Uns corajosos montaram a cavalo e percorreram cercados em busca de tal mistério. Os antigos já falavam em final dos tempos, os mais fervorosos diziam ser castigo e em meio a tantas elucubrações, a cidade em peso já não conseguia mais dormir com àquele cheiro.

Completo o primeiro ano da desafortunada situação, a população já tinha se tornado cronicamente insone e se perguntava 'o que tinha feito de tão mal para receber tal castigo'. Quem pôde foi-se embora para outras paragens. Aos mais desvalidos, restou apenas a resignação para poderem viver num lugar com catinga sem igual.

Pedro e Lucas ouviam de olhos estalados a avó contar essa história inverossímil, e riam quando ela, com o olhar fixo na porta da rua, lhes perguntava se eles também não sentiam o cheiro que vinha de fora.





Inventado por: Henrique Neto às 21:09 | Link |





































blogchalk: Henrique /Male/26-30. Lives in Brazil/Sao Paulo and speaks Portuguese. Spends 70% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection.


































































Tá procurando o quê aqui embaixo???
Rá lá pra cima