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20060330
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Laura
Laura acaba de receber carta de sua mãe. Mais uma para seu rol de inquietações. Há só duas coisas em sua vida que são certas: o amor pelo filho e as cartas mensais de sua mãe.
Laura agora está com a mesma sensação de estranheza pós-carta. Toda vez é assim. Chega em casa do trabalho, bota uma roupa confortável, senta à mesa na cozinha, abre o envelope e lê a carta com atenção diversas vezes. Absurdo, mas sua mãe nunca pergunta, questiona ou pede sua opinião. Fala sobre as novidades, das agruras de sua doenças infindáveis, de alguma filha da vizinhança que se perdeu e outras amenidades tantas, mas nunca, em hipótese alguma se dirige diretamente a ela. Sabe da existência do neto, da ausência de um genro, das dificuldades da filha, mas as ignora tacitamente. Numa linha de tempo, essas cartas falam basicamente do mesmo assunto, variando aqui e acolá no mote. São estórias com moral, finais cheios de lições, conseqüências ameaçadoras e exemplos com intenções de desencorajar os pecadores em potencial. Todas são escritas à mão, com uma caligrafia seca e pesada. Dentro há sempre uma ordem de pagamento, dinheiro indispensável para Laura sobreviver.
Há vinte anos elas não se vêm, mas o medo de Laura diante das cartas faz parecer que sua mãe está logo ali, no cômodo ao lado. Até hoje ela não consegue se desvencilhar da sombra enorme que sua mãe lhe projeta. Pensou em ir à sua cidade-natal visitá-la, mas tamanho foi o desconcerto com a mãe ignorando o próprio neto, que achou prudente desistir de tal idéia.
Às amigas conta que vive "sua própria vida sem precisar de ninguém". É mentira. Vive, desde sempre, na aba da mãe. Acredita que dia desses seu Pacheco vai lhe dar um aumento digno e assim, vai poder mandar a mãe às favas. É um engano. Com a comissão ganha na venda de colchões, mal consegue pagar a kombi que leva o filho à escola.
Laura, trinta e oito anos não confessos, pensa em pintar o cabelo de loiro, mas com medo de receber visita inesperada da mãe, prefere abusar só no esmalte.
Ela hoje jogou no pavão. Teve um daqueles sonhos onde a mãe morria, e era enterrada em um caixão todo enfeitado de gérberas coloridas. Achou que esse seria um "palpitaço!".
Inventado por: Henrique Neto às 20:23 | Link |
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20060322
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C’est ma vie
Acordei bem depois do dia, minha morena, com uma saudade lascada de você, de sua boca e dos seus dengos. Com vontade de ouvir música francesa para pensar que entendo tudinho, assim como a leitura errática que faço do teu coração, palheiro de minha existência embreagada. Pense numa vontade grande de ouvir uma musiqueta cheia de intenções safas! Um je t’aime como uma chupada no ouvido que só você sabe me dar. Tive esse desejo, essa vontade louca de morder tua língua, de furar teus olhos, de arrancar teus cabelos, de te acorrentar, como disse o velho Fernando Mendes, noves fora o que não publico.
Ah a saudade, essa irmã siamesa do desejo, el deseo almodovariano, daqueles que incendeiam casas, dirigem em alta velocidade ou seqüestram la belle de la vie. Santo Serge Gainsbourg dos últimos suspiros que me perdoe, mas a distância, a Rebouças ou qualquer outro empecilho é demais para um coração em fúria e uma noite sem a patroa. Triste daqueles que não têm uma dona, uma 'patroa' que lhe possua até o saldo negativo do banco. Filhos bastardos de Kerouac, estarão fadados a comer o prato frio das ilusões perdidas/compradas nas baladas dos corações solitários, pelas malfadadas noites adentro.
Viva Baco e as deusas que sapateiam em mi bandido corazón, estas já estão do céu para dentro umas três léguas. E ai de quem duvidar de sua fúria e classe, pois só elas, com seus delicados sapatos bico fino, têm a fleuma necessária para esmagar baratas e outros seres rastejantes.
Valei-me outra vez São Fernando Mendes, porque ainda hoje vivo na agonia de dizer que amo numa canção. Valei-me todo o acervo da música francesa, o cancioneiro dos cabarés mais fuleiros. Valei-me tudo isso, porque hoje, Neguinha, eu só consigo te dizer ne me quitte pas. Ne me quitte pas. Ne me quitte pas.
Inventado por: Henrique Neto às 11:45 | Link |
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20060318
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CINE-PANCADÃO
A Colônia Potiguar em Sampa anda arrasando. Semana passada, rolou a primeira edição do Cine-Pancadão, um evento que reuniu mais de vinte jornalistas no consulado, ou melhor, na casa de Rosilene Pereira e Sarina Sena e se inspira nos noitões do HSBC e do Unibanco. Três filmaços, incluso uma surpresa picante foram vistos até cinco horas da manhã, na maior animação desse mundo. "O melhor é poder falar durante os filmes e não ter que ouvir o "psssiii" dos culturetes", apregoa Henrique Neto, uma espécie de Cervantes do Rio Grande do Norte.
Coluna do Francisco (Editora Abril - 16/03/2006).
Inventado por: Henrique Neto às 22:57 | Link |
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20060315
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Everything but flowers
Vi você comprando flores na feira, elas estavam tristinhas.
Banca de flores, você, as ruas cheias de gente e a certeza que ali não há nada de bom para você. Apenas flores. Tristinhas.
Eu sei (ou ao menos desconfio) da sua natural aptidão em apostar no que se sabe – até nas rodas dos aposentados – não ter futuro. Não é para você e você sabe, mas teima, só para dizer aos amigos que há belezas pouco óbvias ali. Será? Aposto que até você se indaga.
Agora nos dias de trabalho ameno consulta cartas num tarot digital, o E-guru lhe avisou para não desperdiçar amores assim, como quem paga flores e as esquece, tristinhas, sobre a banca na feira.
Você sabe, flor alegre, que há possibilidades bem mais maduras te esperando bem aqui, no lado real da vida. Mas ciente de que, em agindo assim faria o que todos anseiam, prefere o escapísmo da insistência ao aborto dessa mentira.
É mentira.
Eu, você e o florista sabemos disso. É fato tal como as gérberas que um dia você me deu. Te lembra delas? Ainda lembra de como ficavam bem em teus cabelos? Duvido que tenhas esquecido!
Mas não me censure, sei que a nostalgia é velha companheira. Sei também que hoje, já curado de você – completamente curado – mal tenho vontade de responder tuas perguntas.
Como pode, flor de laranjeira, alguém ser promovido do inferno ao céu, e depois voltar para o limbo com tanta facilidade? Como?
Com você foi assim, e olha que avisei. Disse que se não te cuidasse, flor distraída, tropeçarias em pedras pequeninas, daquelas que quando nos acertam causam delicada dor, feito flores esquecidas sobre a banca na feira.
Inventado por: Henrique Neto às 00:40 | Link |
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20060307
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Como é dura a vida de quem não tem (nem quer) uma TV
Não tenho vocação para ficar rico. Descobri isso ontem na fila do supermercado. Os alcoólatras – dizem – têm um ‘momento de iluminação’ antes de decidirem parar com o vício, acho que foi isso que me ocorreu. Um momento de iluminação.
Explico: a geladeira de minha casa clamava por atenção, e minha dispensa lembrava aquelas velhas cidades dos filmes de faroeste onde só a poeira marca presença. Já estava enjoado da coxinha do boteco da esquina, quando então, após dias e dias relutando, fui ontem ao supermercado cuidar desse assunto de ordem prática.
Eu não vou nem dizer a raiva que sinto a cada vez que tenho de ir a um supermercado. Nem tente imaginar, minha nobre radiouvinte. É algo que transcende o campo da racionalidade e me deixa realmente emputecido. Melhor tratar um trauma por vez, afinal tenho poucos minutos aqui nesse divã.
Estava eu na fila do supermercado, quando a mocinha do caixa numa curiosa novilíngua tipicamente paulistana, me disse:
– No caso o senhor vai poder estar retirando quatro cupons para poder estar participando de nossa promoção.
Lá vou eu para a fila dos cupons – sim, aqui fila é um vício – crente que poderia faturar uma casa, um carro, ou quiçá um vale-compras vitalício na alardeada promoção, quando me deparo com a cáustica realidade. Para participar da dita, eu teria que acompanhar a programação de um canal de segunda linha, e quando no meio do reclame piscasse uma luz vermelha, eu deveria correr para frente da TV com os cupons em punho, para ver se era eu o sortudo da vez.
Achei a proposta tentadora. Aliás, não sei nem por que não dei meia volta e comprei logo uma TV para não perder essa chance de ouro. Ora, ora, meus caros gerentes-de-marketing-das-redes-de-varejo! Onde já se viu ocupar os pobres dos seus clientes com tamanha aporrinhação?
Ganhar dinheiro assistindo TV, para mim, configura uma forma ilícita de enriquecimento. CPI já! Imagino até o samba do crioulo manco que seria a tal comissão. A senadora Heloísa Helena, extrator de grampo em punho, perdigotando em quanto brada aos quatro ventos:
– Como o senhor, nobre deputado, explica a constituição de sua fortuna só assistindo ao programa da Sonia Abraão? E essas férias em Paris, o Sr. quer convencer a essa casa que pagou com uma tarde assistindo o Domingo Legal? Isso é uma pouca vergonha. Coisa de cabra safado!
Não, não. Depois de aprazíveis quatro anos sem TV, não é por uma promoçãozinha qualquer que vou me render aos domínios dela, que também já foi docemente chamada pelos mais ortodoxos de “a imagem da besta”. Continuarei firme na minha abstinência televisiva e livre dos canastrões em suas comissões de inquéritos.
Eu continuarei passando muito bem, mesmo sem um TV de plama de 42 polegadas.
Inventado por: Henrique Neto às 18:53 | Link |
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20060302
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Flamengo x Botafogo – Uma crônica por quem assumidamente não entende do assunto.
Sábado de carnaval, Rio de Janeiro, turistas de todos os cantos, uma tarde de céu limpo e no Maracanã um Flamengo x Botafogo com direito a estádio cheio. No coração da torcida rubro-negra a paixão que não se apaga, nem mesmo com o time jogando uma partida para lá de medíocre. Apesar do 3 x 2 arrancado a duras penas, as arquibancadas do estádio vibravam com a nação do 'unidos pelo Flamengo até a morte'. Lindo o desfile dessa escola. Nem os passes errados, bolas fora, gols perdidos e tomados esmoreceu o povo rubro-negro. Era comovente até para quem não manja da arte-mor da nação, ver tanto entusiasmo por um time que já viveu melhores dias.
O Botafogo faz mais um gol, mas ainda assim a Nação não desanimou. Preferiu cantar, bater palma e levantar a moral do time, tão murchinho em campo. Devoção assim só puta tem. Elas são mestres em sofrer, se arrastar, apanhar, e nem assim desistir do seu amor bandido. A paixão (sempre ela) fez a torcida do Flamengo entoar gritos de guerra e usar da criatividade para chamar o árbitro de ladrão. Era um tal de "Edílson... Edílson..." (Edílson Pereira de Carvalho, aquele da máfia do apito) e "deixa de bobeira/ deixa de bobagem/ já virou sacanagem".
O cronista, emocionado por finalmente conhecer o Maracanã cheio, pulou, cantou, vibrou e quem o viu assim, haverá de dizer tratar-se de uma flamenguista roxo. Não é o caso. Meu apreço pelo esporte que move multidões é muito tímido. Sou, como dizia Nelson Rodrigues, daqueles que chegam ao estádio e perguntam quem é a bola. Um vexame para ninguém botar defeito.
Já de volta para casa, na estação de metrô, um grupo de japoneses filmavam foliões a caminho do sambódromo, mas ao avistarem a torcida flamenguista tomando o local, mudaram o alvo de suas câmeras e gritavam: Zico! Zico! Zico!
Foi lindo ver a maior torcida do Brasil se acabando pelo Mengo. Mais lindo ainda era um boy de uns cinco anos, devidamente trajado, vibrando junto com seu pai. Essa cena serviu para afirmar que, apesar de tantos malogros flamenguistas, ainda haverá muitas tardes de sábado com estádio cheio e bandeiras rubro-negras emocionando a quem se permitir assistir a tal espetáculo.
Inventado por: Henrique Neto às 09:31 | Link |
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