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20051129





De Antonio Prata (publicado na Capricho):


Força, Margareth!

Branca de Neve, 63 anos, está morando nos subúrbios de Miami desde o final da década de 80. Ainda conserva as bochechas rosadas de antigamente, embora a implacável ação do tempo e algumas plásticas mal-sucedidas tenham tirado a maciez da juventude. O negro dos cabelos continua igual, e ela nega usar qualquer tintura. “Só faço hidratação e, ultimamente, escova progressiva. A cor é a que Deus me deu”.

Não foi fácil convencer Branca a dar a entrevista. Só topou conversar com a Capricho depois que o Tato e a Brenda escreveram, dizendo que não publicaríamos nada que ela não autorizasse. Uma carta dos três porquinhos, dizendo que já haviam participado da sessão “Estive Pensando”, sem danos às suas imagens, também foi de grande ajuda. Vamos à entrevista, concedida por telefone.

Em primeiro lugar, Branca de Neve, esse é seu nome mesmo? Ninguém se chama Branca de Neve, né? Meu nome é Margareth Wilson McBright. McBright por parte do meu ex-marido.

O príncipe? Prícipe? Ha! Ha! É impressionante como as pessoas acreditam nos contos de fadas. Bom, eu também, no início, acreditei, só porque ele chegou à cavalo. Ele era um cafa ridículo. Queria era pegar todas dos contos de fada. No primeiro ano de namoro, deu em cima de todas as minhas amigas: Cinderela, Bela Adormecida, Rapunzel. Até nas fadas madrinhas ele passou umas cantadas.

Nossa! E aí, você se separaram? Sim, já faz mais de dez anos. Há cinco anos me casei com um dos caçadores que mataram o lobo mal. O Brian. Tudo ia bem, mas há uns meses ele foi processado pelo Greenpeace e está cumprindo cinco anos de cadeia.

Nossa, Branca, sua vida foi difícil, né? Muito. Não é fácil ser ex-personagem de contos de fadas. Você tem toda aquela exposição por um tempo, mas depois te esquecem e você é trocada por um Schrek, um Toy Story qualquer. É triste.

E por que você foi para os EUA? Nos anos oitenta, vim pra cá fazer uma plástica, arrumei uns freelas em publicidade e acabei ficando. Fiz muita propaganda de sabão em pó. Ganhei algum dinheiro até.

E quais os planos para o futuro? Estou pensando em abrir uma escolinha ensinando jovens a fazer carreira em conto de fada. Dar uma orientação, ver quem tem mais jeito pra princesa, quem daria uma boa fada, uma madrasta, essas coisas. Tem muita menina talentosa aí, elas só precisam de orientação.

* * *

Fizemos mais algumas perguntas, principalmente sobre um suposto processo que os sete anões estariam movendo contra Branca de Neve, à respeito de direitos autorais. Ela não quis responder e desligou o telefone bruscamente. Correm em Miami boatos de que Branca esteja muito deprimida e que sofre a tragédia do alcoolismo. A reportagem da Capricho torce para que sejam mentiras infundadas e que nossa querida Branca volte a ser valorizada como um dia já foi. Força, Margareth!





Inventado por: Henrique Neto às 13:39 | Link |

20051128





Resenha

Resolvi dar uma chance a mim (ó, clichê velho cansado). Lúcifer, eu desço no próximo ponto. Desisti de alimentar ilusões capengas. Estou em plena temporada de despegos. Não serviu, lixo! Há quem tentará dar explicações psicológicas a isso, eu chamarei apenas de praticidade.

Pensei em quanto o espelho adoece, em quanto se cria bolhinhas com intenções de diamantes e nas possibilidades de blefar nessa mão. Eu quero trucar. Eu posso - ainda que o truco seja um jogo do qual eu descohença totalmente as regras - e vou tratar só de verdades. Hoje ainda, porque segunda é um dia longe. Segunda pode ser tarde, eu velho, e vida gasta, e confetes molhados, e devoções maculadas, e entretantos desqualificados e minha cabeça já tenha partido. Hoje eu vou ser mais leve.

Resolvi isso tudo entre tragos com amigos, pigarros de consciência (essa é nova, hem?), ginásticas cerebrais e toda essa mecânica que me faz acordar com o relógio, me espreguiçar no balanço das horas e tentar, talvez, desmistificar o alvorecer. São, por hora, apenas intenções, há de se tomar providências antes.

Reencontrei velhos afetos, me balancei com semi-possibilidades, vi que das interrupções, podem, sim, haver novos caminhos. Sei que dito assim dessa maneira, parecerá uma imensa e desconexa colcha de retalho, mas não, nobre rapaz. Resigne-se.





Inventado por: Henrique Neto às 01:33 | Link |

20051124



Estorvo
 
 
Na minha rua, bem em frente ao meu prédio, tem um buraco imenso. Seu Sandoval, o zelador, me disse que mais um mês e o danado vai fazer aniversário. Eu nem me importava muito com minha rua, quem dirá com os buracos que ela tem, mas esse, em especial, tem me atrapalhado um bocado.
 
Quando chego em casa de bicicleta – porque eu sou um dos poucos teimosos que insistem em andar de bicicleta –, tem sempre um ônibus ameaçando me arremessar longe, só para desviar do buraco. Nunca pensei que um dia, um buraco de rua fosse fazer parte do meu universo de preocupações. Estou descendo a rua despreocupado e quando vejo, lá vem o ônibus se jogando para cima de mim. Aí é um tal de derrapa daqui, freia dali e eu fazendo todo tipo de munganga em cima da bicicleta, para não me lascar de uma queda.

Toda vez que isso acontece eu penso: "hoje vou por cima da calçada", mas me esqueço, vou pela rua e olha o buraco me botando no meio de um aperreio de novo. Eu não me importo de andar pela calçada, mas acho injusto com as velhinhas, porque elas sempre ficam sambando para lá e para cá na frente da bicicleta, com medo de serem atropeladas. Eu nem corro nem nada, vou com todo cuidado para não esbarrar em ninguém, mas tem sempre um ser humano de pouco tutano na cabeça, que acha razoável travar estrategicamente em frente a mim. De raiava desse povo lerdo vou pela rua, e aí quando vou chegando no prédio, vem toda aquela história do ônibus que desvia do buraco e me joga longe e tal...

Seu Sandoval outro dia gritou para eu olhar para o ônibus. Ele deve pensar que eu tenho algum problema, porque é todo dia essa novela. Aí eu fico com raiva do zelador que grita, do motorista, do buraco, da prefeitura e de mim que sou um esquecido.

Preciso tomar uma atitude logo, se não o pobre do seu Sandoval enfarta ou eu vou mesmo ser atropelado. O ruim é que até eu ligar para prefeitura reclamando, e achar o homem dos buracos, e pedir para ele tapar, e o buraco ser tapado, é melhor eu vender logo a bicicleta. Mas só de pensar nessa possibilidade, eu começo a ficar puto com o buraco e com aquela ruma de gente que ele puxa.
 
Pensei até em mudar de rua só para o buraco sair do meu pensamento, mas quando eu lembro da minha última mudança... Eu passei um ano para desencaixotar as minhas coisas, e achar tudo o que eu tinha trazido. Sem contar que o os caras da transportadora quebraram o meu despertador. Como eu gostava daquele despertador. Ele tinha uma trava grande em cima, assim bem no meio, que fazia “cleck” quando você desligava e dali a um tempo ele tocava de novo. Era ótimo isso. Nos dias de preguiça eu ficava no cleck, cleck, cleck, sem querer me levantar. Então mudança está totalmente descartado.
 
Outra opção, era encher o buraco de terra, mas eu nem sei onde conseguir. Será que é caro um saco desses bem grandes, que vende nesses lugares que têm plantas e vasos?
 
O seu Sandoval me disse que todo dia liga na prefeitura, para saber quando eles vão vir tapar o buraco, mas eu acho que ele está só me enganado. Disse que, quando vê um ônibus correndo muito e se jogando para cima dos outros, assim com tudo, ele anota a placa e liga para a empresa reclamando. Eu realmente não sei se essa é a melhor maneira de resolver o problema do buraco. Vai que o povo da empresa de ônibus resolve despedir o motorista? Já pensou o coitado chegando em casa triste, aí vem o filho e o cachorro correndo para abraçar ele no portão, ele pega o filho no colo, chora; a esposa pergunta o que está acontecendo, daí ele conta que perdeu o emprego por causa de um buraco de rua. Não, isso não seria nada certo.
 
Me pergunto se todo mundo tem esses problemas com buraco de rua, como eu tenho. Não deve ser muito comum isso. E porque diabos esse buraco foi escolher logo a mim? Tanta gente nessa cidade e o buraco acha de topar justo comigo.
 
Essa história de buraco tem me stressado tanto, que estou até pensando em pedir umas férias lá no meu trabalho. Quero viajar, tirar uns dias no interior pescando, esfriando minha cabeça. Quem sabe assim eu não me esqueça um pouco dessa história do buraco.





Inventado por: Henrique Neto às 23:56 | Link |

20051122






Da calma que eu ainda quero ter


Inda lembro do primeiro dia em que a vi. Ela estava cintilante em seu abrigo que parecia feito sob encomenda. Abriu a porta para mim e trouxe junto um sorriso que iluminou aquele domingo feio, típico dessa cidade de avenidas e pedras. Já dentro da casa sem donos, vi que ela ainda me buscava com seu olhar de indagação. Nem a rainha negra – instalada numa rede –, nem a moça de sorriso grande da TV, prenderam minha atenção, exceto ela e sua presença magnética.

Lembro de tudo sem saudades, como flashs que me atropelam nas manhãs de barba por fazer com a voz de Billie no som da sala, abrindo talhos no dia que não quer nascer. Nesses instantes, o sono, o frio e a simples preguiça fazem o tempo levitar. Luto para me situar, como quem teme se perder na pancada das horas frouxas.

Os amigos de se senso prático dizem para eu esquecer, ir vender meu peixe em outras feiras, mas eu não sei se devo/posso/quero. Por hora me contento em pegar uma bebida e ir sentar no lugar que me foi reservado na platéia. Ali sou massa, assisto discreto aos movimentos, vacilos e intenções que dela advém.

As lembranças!? São meu cão-companheiro, anda comigo, pede afago de vez em quando e nos momentos onde desejo apenas a silente calma, fica ao meu lado esperando o porvir.

Aprendi que os dias cinza, as lembranças, a moça de olhos inquisidores, a preguiça, a barba por fazer, as horas frouxas, o senso prático, a voz de Billie Holiday, a platéia e essa minha incrível habilidade de gostar dos outros de maneira desmedida, fazem parte de uma história que tento escrever com calma.





Inventado por: Henrique Neto às 14:25 | Link |

20051118





Da beleza harmônica que há no vazio


As pausas, dentro de qualquer composição, são essenciais. Desafio para quem cria, necessárias a quem consome e um alívio aos que vêem, os respiros de um texto - tal como espaços vazios em uma casa - harmonizam e dão graça; são a chance da criatividade. O vazio é, portanto, metade de tudo o que há de esteticamente bem resolvido.

Pausas.

Olhos de cidade grande não têm repouso, são seqüestrados quando miram em qualquer direção. Há sempre alguém vendendo nos lugares mais inoportunos. Um apelo, um falso cais tentando nos agarrar, até dentro de mictório tem reclame. Numa cidade sem horizontes, com árvores ilhadas e fins de tarde de beleza espetaculosa, os olhos nunca encontram pausa.

Nem as praias dominicais, nem o correr entre árvores, dão espaço para o vazio criativo. As palavras pintadas folgam com os passantes, gritam em cada poste, alardeiam soluções e namoram as carências. Há desde coletor de bosta de cachorro, a crediários para silicone. Está tudo posto à mesa, sirva-se!

É à noite, quando o véu da boemia se estende amenizando o caos, e a normalidade esboça existir, que a cidade feiosa vive respiros cadenciados. Andando pelo passeio sujo por cachorros, desviando de gente que parece ser nosso inferno e céu, ou criando mini-fortalezas, as pessoas buscam respiros. Pausas para amenizar a dor cotidiana.





Inventado por: Henrique Neto às 11:58 | Link |

20051117






Corazón Partido


Tenho passado grandes dificuldades por esses dias, a memória da minha secretária eletrônica está quase no fim (negro drama), e não sei o que fazer. Já tentei encontrar uma forma de estender a memória, gravar os recados, mas ela não me dá nenhuma dessas opções.

Na impossibilidade de uma negociação com a máquina – fiel leão de chácara, que garante a privacidade do meu humilde cafofo –, parti para a ignorância e apaguei recados como os de atendentes de tele-marketing, vendedores e congêneres, que não me interessavam. Os que ficaram são valiosos, e eu não devo/posso/quero apagá-los dado seu teor literário (sim, literário nobre deputado). Sua variedade então, é um verdadeiro jardim das delícias.

Tem todo tipo de mensagem: as 'neutras' que estão lá apenas para marcar o ato de quem telefonou. Não fazem cobrança, pedem retorno, rogam pragas ou clamam por minha presença; se desse para armazená-los em pasta, essa teria uma etiqueta escrita 'oi'. Tem as 'lascivas' que juram saudades, lamentam a ausência e pedem para dar sinal de vida; essas, por comprometerem até o meu tetravô, deveriam ser colocadas numa pasta protegida com senha. As 'descoladas', dos que ligam chamando para farra, evento (festa em São Paulo tem esse estranho nome), uma cervejinha inofensiva ou variações desse tema. As do grupo 'família' são mais serenas, adiantam o assunto, pedem retorno e despedem-se com carinho.

Um grupo igualmente interessante são as 'contestadoras': deixadas por almas inquietas, elas querem arrumar confusão até com gravação. Questionam as palavras e termos usados, sua ordem, estética, o tom de voz, a velocidade, a rima, a métrica, etc., etc., etc. O rol de reclamações é tão vasto, que eles esquecem a razão do telefonema, o tempo de gravação acaba e a criatura além de não deixar recado, fica lá arengando sabe Deus com quem. Um verdadeiro show de rádio.

Agora que você divide comigo essa agonia, nobre leitor, lanço nesse canto de site um apelo: quem puder me indicar o que fazer para guardar essas mensagens, avise-me por favor. Pois tal como aquele cantor latino, só de pensar em perdê-las estoy de corazón partido.





Inventado por: Henrique Neto às 10:42 | Link |

20051116





Ontem à noite ganhei o presente mais lindo do mundo: "... 15/11/5".





Inventado por: Henrique Neto às 00:55 | Link |

20051114





O toca-fitas do meu carro

O cara que levou o som do meu carro foi bem bacana. Finalmente um ladrão de som profissa. Não quebrou o vidro, não arregaçou a porta e ainda teve o cuidado de deixar os fios separados para evitar um curto. Além de pragmático ele também foi muito ético, roubou o som e nada mais; minha jaqueta e os outros pertences continuaram lá, intactos. Se você visse o furo mínimo que ele fez fechadura, nunca ia imaginar que o carro foi arrombado. Os outros ladrões deveriam fazer curso com esse cara.

Na verdade, a culpa desse furto foi toda minha: quem mandou parar o carro na rua? É para isso que existe estacionamento. Agora só falta eu querer botar a culpa no governo, exigir mais segurança e essa coisa toda. Coitado do governo, está lá todo enrolado tentando garantir sua reeleição, lá vai ter cabeça para pensar em segurança pública...

Reclamar da calamidade nos serviços públicos, só porque um terço do meu salário fica com o governo, é um absurdo! Você já pensou a dificuldade que ele tem para gerir todos os gastos públicos? Pagar avião novo, bancar financiamento de empresas do filho, comprar voto de deputado, pagar publicitário de atuação escusa; é muito gasto para pouco dinheiro. E depois, esses problemas já estavam aí antes dele, ele nem deve saber que existem.

Ademais, com um serviço de transporte público tão eficaz, quem manda eu querer sair de carro? Contribuo para piorar o trânsito, aumentar o efeito estufa e tal (eu sou um amostrado mesmo!).

E o ladrão - esse pobre coitado - certamente rouba porque não teve escola, e assim não acha um emprego decente que possa sustentar sua família; daí sai cometendo esses pequenos delitos, não é ladrão?

Claro que eu não estou reclamando do estado, o governo tem se desdobrado para dar escola a todo mundo, é que é muita gente, sabe?

Ladrão, você me desculpa de não ter facilitado sua vida, tá? Da próxima vez, vou lembrar de deixar a frente do som, para você não ter prejuízo na hora de passar para frente.





Inventado por: Henrique Neto às 11:38 | Link |

20051111






"(...) quero dirigir o meu próprio destino/
quero amar essa mulher".





Inventado por: Henrique Neto às 17:18 | Link |

20051110





"Papo, papo, papo


O presidente fala, fala e não diz nada; enquanto isso, o mundo gira, mas o PT não sai do lugar


Como quase todo mundo que tem TV a cabo em casa e estava acordado àquela hora, eu também assisti à entrevista do presidente Lula ao "Roda Viva". Afinal, o homem, ao menos em tese, governa o país; há uma crise sem tamanho e sem precedentes comendo solta no seu quintal; há duas mortes de prefeitos do PT muito "naturais" para a Justiça, mas suspeitíssimas para qualquer leitor de romances policiais; há um contrato no mínimo duvidoso na família -- para não falar em toda uma galeria de tipos sinistros, fazendo revelações cada vez mais comprometedoras sobre os bastidores do Poder.

Por melhor que pudesse estar a programação do Discovery, o presidente está devendo duas ou três respostas à Nação e, se as desse, eu queria estar a postos para assistir ao Momento Histórico.

Lula não inventou, mas elevou à categoria de arte a forma clássica de comunicação dos políticos que fogem da raia, o silêncio estrepitoso. Como ele mesmo observou, às vezes faz até oito discursos por dia -- e, inacreditavelmente, nada se aproveita desse caudaloso rio de palavras, exceto algum material para anedotas. Seria interessante ver se, cutucado sobre assuntos dos quais prefere distância, ele chegaria, enfim, a algo mais consistente, e quiçá mais elegante, do que jogar o otimismo na privada e dar a descarga.

Sou brasileira, nunca desisto, mas confesso que, quando o presidente disse que nunca foi "tão irritado, tão nervoso como oposição", desisti de ver qualquer coisa que se aproximasse, sequer remotamente, da realidade. Pois se até as pedras da rua sabem que o notório Duda Mendonça foi contratado justamente para apagar a sua real imagem raivosa e, num ato explícito de propaganda enganosa, substituí-la pelo falso "Lulinha Paz e Amor"!

Ao longo da noite, quem foi ficando raivosa fui eu. Entendo que, entre nós, a política se transformou na prática de mentir deslavadamente e preservar a própria pele a todo custo, mas, ainda assim, conservo certos valores arcaicos. Por causa deles, me sinto insultada sempre que um funcionário do povo tenta fazer de tolo o próprio povo que o sustenta.

Pois Lula não fez outra coisa durante a entrevista, da negação da existência do mensalão à afirmação de que o negócio do filho com a Telemar foi feito de forma "absolutamente transparente" -- quando, na verdade, tudo foi feito para encobrir a nebulosa transação. Ora, a tal ponto ele sabe que cinco milhões não caem de mão beijada na conta de ninguém que revelou, provavelmente sem se dar conta do que dizia, que sonha com um Brasil em que seus netos possam viver sem corrupção. Apesar de usar a enervante metáfora das ?práticas equivocadas?, ele há de saber o que a sua geração está fazendo, e do exemplo que está dando aos filhos.

Eu não sei o que são cinco milhões. Números assim não passam de abstrações para mim, mais ou menos como a distância da Terra à Lua ou as teorias da física quântica. Por isso, resolvi fazer as contas de quanto tempo uma pessoa que ganha R$ 2.326,00 por mês levaria para amealhar os R$ 5 milhões que a Telemar achou por bem investir na até então inexistente empresa de Lula Jr. Escolhi esta quantia não por capricho ou numerologia, mas porque R$ 2.326,00 correspondem, para o governo, a um salário de rico, do qual se pode subtrair uma das mais altas alíquotas de imposto do mundo, 27,5%. Apenas 5% dos brasileiros estão nesta faixa de renda.

Pois bem: se não gastasse um único centavo do seu salário, e se dele não fossem descontados imposto, previdência e eventuais taxas, em menos de 180 anos -- mais precisamente, 179 anos e dois meses -- o feliz assalariado poderia chegar aos píncaros financeiros atingidos pelo talentoso herdeiro do presidente. Que continua achando que não há nada demais com tal montanha de dinheiro, e que se mostra indignado quando a sociedade, através da imprensa, insiste em se meter na vida do filho, rapaz de tanto sucesso.

Mais irritante do que a entrevista de Lula, só mesmo a reação xiita que encontrei na internet diante da indignação de brasileiros e brasileiras que se sentem traídos e pilhados por este governo sujo.

No blog do Noblat, alguém sugeriu que Lula tem fixação obsessiva com FhC: só fala nele, só se refere a ele, só se pauta pelo que ele fez ou deixou de fazer. Mas, nisso, Lula é apenas o Grão-Petista, refletindo os costumes da sua tribo. É impossível apontar a "conduta equivocada" de algum companheiro ou os "recursos não contabilizados" do PT sem que todos saiam disparando, furiosos, sobre o PSDB e FhC. Ninguém pode dizer um ai sobre Lula sem ser imediatamente taxado de tucano, a pior das ofensas.

Alguns são tão arrogantes e sectários, e estão de tal modo acostumados a pensar de acordo com as diretrizes do partido, que não concebem que haja quem pense pela própria cabeça, deteste igualmente todos os partidos e abomine Luiz Inácio e sua turma pelo incalculável mal que estão fazendo ao país.

O fato de Lula estar na Presidência e ser, portanto, o alvo óbvio da indignação do momento não lhes passa pela cachola; para eles, não se pode criticar Lula em pleno ano de 2005 porque, nos idos de 1998, FhC fez pior.

Haja paciência!".

(Cora Rónai - O Globo, Segundo Caderno, 10.11.2005)





Inventado por: Henrique Neto às 16:31 | Link |

20051109





Mil Toques


Era uma idéia que estava bem aqui, fresquinha. Me encontrei com ela hoje de madrugada, parecia bem. Umedecida com cevada de alta estirpe, estava conformada em ir para a cama comigo, acordar cedo, e tomar forma em linhas que se sucedem em menos de mil toques. A danada escapou sem deixar bilhete de despedida.

Fiquei assim, no vácuo, com um assunto atolado no pigarro de idéias, um hiato entre uma madrugada de farrinhas e os deveres diurnos. As idéias em flor, cabritas selvagens, gostam de respiro nos textos, frases soltas, grandes espaços em branco e de harmonia estética para poder correrem livres. Já o escritor não, esse tem mania de domínio, da palavra exata, do ponto e vírgula e todos esses cavaletes de atravancar caminhos.

Dívida feita, resta a tentativa agoniada de laçar a rês vadia, trazê-la de volta para casa, dar de comer, fazer um carinho e convencê-la a pastar por essas paragens, mais perto dos olhos embotados de sono, e da preguiça que desde Adão move esse mundo adiante.





Inventado por: Henrique Neto às 13:16 | Link |

20051107





Avia?o



Inventado por: Henrique Neto às 01:22 | Link |

20051104





Revista de novela

O pessoal do escritório é fogo. Passa o ano todo brigando por causa do ar condicionado, mas quando resolvem fazer festa... Ontem foi bom lá no barzinho. Até o Almeida da contabilidade apareceu. Logo ele que briga com tudo mundo pela prestação de contas, centro de custo errado e essas chatices contábeis.

Eu nem sabia que ele era tão divertido, dançou twist com as meninas do ativo fixo. Teve uma hora que o homem parecia que ia enfartar, de tão suado que estava. Aliás, ele usa peruca? Eu tive a impressão de ter visto a franja dele fora do lugar, como se a peruca tivesse rodado na cabeça. Mas se usar, não importa, fica até mais elegante. Imagina um supervisor de departamento com anos de casa, e uma careca suada.

Agora a melhor parte foi o Dr. Nunes. Menina, eu não acreditei a hora que o homem chegou. A dona Roberta, toda esticadinha, também se acabou de dançar. Eu nunca pensei que um povo fino como eles dançassem daquele jeito. Eles sim, parece um povo feliz. Chegaram agora de uma viagem de lua-de-mel na Grécia. Ele dá presentes, manda flores, liga para saber se ela foi para a academia, uma belezura.

Só achei feio a Neide do jurídico. Você conhece ela, né? A mulher é mesmo azeda. Emendava um cigarro no outro, tomou água tônica sem parar e não conversou com ninguém. Tenho certeza que ela foi lá só fazer média para o Dr. Nunes.

O Pacheco ficou tão empolgado, que já está querendo marcar para a gente ir dançar tango. Ele é um pé de valsa, viu. A Ângela me disse que ele tem seis filhos, e que a esposa é gorda e bem invocada. Por isso aquele homem vive uma pilha. Imagina o desgosto, chegar em casa e encontrar uma cristã dessas pela frente? Dizem que o Pacheco já saiu com a mulherada toda daqui, mas comigo não, minha filha! Eu sou de respeito. Eu quero que alguém dessa firma diga que já teve alguma coisa comigo. Isso eu posso falar em voz alta.

É verdade que já faz um tempo que eu não tenho namorado. Mas se você quer saber, eu nem me importo. Não mesmo... Chego em casa, boto um roupão, deito com meu gato e vejo a novela tão feliz, sabe? Sem filhos para perturbar, marido pedindo as coisas. Eu sim, sei viver. Sinto, às vezes sinto vontade sim, mas já passou tanto tempo que eu nem sei mais como faz para namorar.

Marta, eu agora vou desligar. O Vianinha chegou e eu tenho que ir lá despachar com o homem. Na hora do almoço, eu te conto o que li na revista da novela. Você nem imagina o que vai acontecer no capítulo de hoje...





Inventado por: Henrique Neto às 14:22 | Link |

20051103





Chupado da Cora.


"Tipos de amigos e seus e-mails


Está rolando por aí:

· Amigo Terrorista: Só manda e-mail sobre vírus, alerta, não abra, cuidado, enfim... só espalha o pânico na Internet.

· Amigo Inbox: Encaminha o texto dentro de um anexo, que está dentro de um anexo, que está dentro de um anexo, que está...

· Amigo Tarado: Só manda sacanagem. Quase te mata de vergonha quando você abre o e-mail dele perto de alguém no trabalho.

· Amigo Alegre: Pra dizer que está rindo, escreve: risos, rsrsrs, hahaha, hehehe, hihihi, rárárá!!!

· Amigo ADSL: Aquele que pensa que todo mundo tem banda larga. Só manda e-mails enormes com animações em flash, vídeos, MP3, mpeg, etc...

· Amigo Vale a Pena Ver de Novo: Aquele que te manda aqueles e-mails que circulam na Internet há mais de 50 anos como se fosse a primeira vez. E depois de seis meses, manda de novo.

· Amigo Solidário: Manda um monte de mensagens de auto-ajuda cheias daqueles anjinhos, florzinhas, como se isso fosse mudar a sua vida definitivamente.

· Amigo Madre Tereza de Calcutá: Vive mandando e-mails de pessoas com doenças, crianças desaparecidas, creches necessitadas etc.

· Amigo Lá Vem Ele...: Aquele que lembra de te mandar e-mail só para pedir alguma coisa.

· Amigo Ping-Pong: Aquele que recebe um e-mail de alguém e repassa para toda a sua lista inclusive para a pessoa que o mandou.

· Amigo On Line: Mal mandamos e a resposta já está de volta.

· Amigo Off Line: Depois de um ano e oito meses a resposta vem... E sem referência.

· Amigo Tô Nem Aí: Você manda dez e-mails e ele não te retribui nem com meio.

· Amigo Chato: Manda sempre os piores e-mails do mundo. Manda no mínimo 118 e-mails por dia. Pensa que você tem todo tempo para lê-los.

· Amigo Hora do Rush: A caixa postal dele tá sempre lotada. Nunca tem tempo para abrir os e-mails.

· Amigo Anos 60: Vivem mandando totens, correntes, esoterismo, numerologia, horóscopo, mantra, reiki etc...

· Amigo Arquivo X: Acredita em todas as teorias conspiratórias e reenvia pra todo mundo. Ainda faz o comentário pra todos lerem com atenção.

· Amigo Mesmo: Ao invés de te mandar resposta via e-mail, te telefona.

E se alguém não se enquadrar num desses tipos, é porque não tem computador. Nem telefone."





Inventado por: Henrique Neto às 11:46 | Link |

20051101





Ícaro


Para ele o tempo de agora era demasiado veloz. Não dava conta de atender a tantas demandas.

Foi por esses dias que desistiu do celular.

Não gostava da sensação de âncoras no peito, preferia o respirar não sincopado.

O microondas, o hard drive e a camisinha eram realidades desde que se entendia por gente. E por gente, preferia levar a vida no seu próprio estilo, apesar dela duvidar das suas verdades.

Naquele dia em que andaram pela praia, beberam e conversaram na areia, foram parar numa galeria (dessas onde se pode usar o banheiro para acudir as emergências do álcool). Lá chorou ao dizer o que sentia. Ela quis ir para casa escrever insanidades em seu cyber diário. Ele, como sempre, tinha feito tudo errado apesar dos ensaios.

Não compartilhava dos hábitos de seus contemporâneos e muito por isso, era tido como o estranho. Não se importava, preferia a paz de poder se olhar a viver no tempo alheio. O pai já tinha aprendido suas marés e ele, apesar dos dezesseis, se sentia velho demais.

Pensava em amar àquela menina que o acusava de choro falso, de ser igual a todos os outros garotos, e que depois de conseguir seu objetivo imediato, sairia por aí contando vantagens nas rodas. Essas acusações faziam sua barriga formigar. Consultou amigos nunca dantes vistos pelo messenger, pensou em falar com um tio que vivia longe, mas sua timidez o desencorajou.

Se achegou às fórmulas matemáticas, em vez das noites de farra na Ribeira. Passada essa fase, estava disposto a mostrar à bela menina fã de Belle & Sebastian, que não era diferente dos outros, só não era muito igual.



ADVERTÊNCIA: Os nomes foram trocados para preservar as pessoas das histórias.





Inventado por: Henrique Neto às 10:53 | Link |





































blogchalk: Henrique /Male/26-30. Lives in Brazil/Sao Paulo and speaks Portuguese. Spends 70% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection.


































































Tá procurando o quê aqui embaixo???
Rá lá pra cima