Conterrâneo Mala
Imagine um sujeito franzino, baixinho, levemente corcunda, bicudo, usando um Gumex no cabelo que faz parecer que a vaca acabou de lambe-lo, e para completar o style, ainda usa um mal-ajambrado terno da Colombo. Imaginou? Qual nome você daria ao distinto? Sr. Gumex, óbvio!
Pois bem, o Sr. Gumex existe, tem emprego fixo e tem até telefone celular. Sim amigos, o telefone celular é um parágrafo à parte em sua vida.
O celular do Sr. Gumex
Como hoje, vinte em cada dez empresas têm layout aberto, somos obrigados a conviver com as maiores bizarrices dos nossos colegas de trabalho. Há quem ouça música Indiana em pleno expediente, outros que acham que a mesa tem que parecer com a réplica de um carro alegórico da Beija-Flor e ha ainda os histéricos do celular.
Ah, esses infelizes. Dão pulinhos de alegria a cada vez que seus módulos portáteis de comunicação tocam e não contentes em berrar com o interlocutor, ainda ficam zanzando na sala segurando o aparelho na pontinha dos dedos, com um ar de: hei! Percebam minha presença.
E o Sr. Gumex preenche todos os requisitos anteriores.
Eis que um dia, estava eu resolvendo alguns assuntos na matriz quando de repente vejo a minha frente àquele imenso capacete besuntado, trajando mais um terninho vagabundo. Sim, senhoras e senhores, era ele, o Sr. Gumex, que num tom grave e de sobrancelhas em V me perguntou:
- vais ficar o dia todo aqui?
E eu, esse cara tímido que sou, numa tentativa de abreviar aquele diálogo e tira-lo da minha mira, balbuciei algo como:
- Não, já estou voltando ao CD (centro de distribuição).
Foi quando ele, num tom solene segurou o celular com as pontas dos dedos e disse enquanto balançava o outro dedo no ar:
- preciso falar contigo. Me ligue. Me ligue!
Indicando o celular, sumiu corredor afora para meu conforto.
Análise da cena
1 - Se o Sr. Gumex é quem quer me falar, porquê eu é quem teria de liga-lo?;
2 - Quem disse a ele que eu tinha o seu telefone (eu não tinha)?;
3 - Se o assunto era tão importante, porque ele não me ligou antes?
De volta ao CD e já devidamente instalado em minha mesa, o telefone toca e era ele, o Sr. Gumex, num tom solene de cantor de ópera bufa, a me perguntar se eu tinha nascido em n@/%* e eu respondi que sim. Nessa hora - até imagino a cena - ele abre o bolso do palitózinho, saca aquele lenço marrom ultra demodè e enxuga as lágrimas que lhe caem, dizendo:
- Eu também. Eu também!
Senhoras e senhores, tirem as crianças da sala, pois a denuncia expontanea que aqui farei NUNCA MAIS será repetida:
O Sr. Gumex confidenciou-me que era meu conterrâneo.
Não, Deus não pode ser tão mal comigo! Pensei.
Como, de uma cidade que nem chega a ter doze mil habitantes, poderia ter saído àquela figura tão, tão... Suigeneris (digamos assim)?
Meu mundo caiu. Só falta agora ele querer saber como estão seus parentes de la e que eu lhe dê notícias da terra santa.
Um negócio desses é de lascar o cabra!
Inventado por: Henrique Neto às 19:41 | Link |
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