Janela da Frente
- Esse aí ó - disse enquanto apontava para o filho - vai ser o futuro Pai.
A mãe, a outra banda da gênese, volta ao princípio como um círculo infinito.
A vida em camadas se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo...
Gostava daquela pose macho-libertária do seu último rebento.
Cochilou no seu colo. aquele homem explendoroso e ela travada, não sabia mais fazer carinho.
Era tão parecido com o Pai que queria beija-lo, como quem beijasse o passado, naquela pele serena que só a juventude tem.
Achava lindo, ainda que aflitivo, aqueles seus meninos, hoje todos homens de sua vida, fazendo o mesmo caminho, só que agora sós, cada um num caminho trilhado de si para si. Não andavam mais com suas pernas depois que ganharam o mundo e voltaram com seus amores destemperados e sem sal, mas com netos futuros materializados.
O primogênito era o preferido pela própria condição. Tinha os traços todos dela, boêmio e polêmico, atraente e libertário, só não seguia o caminho do vento para não perder a originalidade. O segundo duela com ela e sua beleza, rivalizavam em tudo, discordavam sempre, a única coisa que dividiam eram um grande amor recíproco e não declarado. Já ele não, era a vida dando voltas precoces. Era ele de novo no caráter, no olhar, andar, falar, pensar, agir e se enfurecer. Até o semblante preocupado ou que vacila era igual.
Via a casa cheia e pensava em como era feliz. Admirado por todos viu! Mas se mantinha longe da audiência tocando sua vida de bailarina. Era atriz e sofria pelos meninos de pouca sorte nas escolhas. Como podiam ser tão fracas, se perguntava a cada novo encontro. Mas se consolava ao saber que eram cegamente apaixonadas e devotas. Inclusive àquele, e sua bagagem.
Nossa, como o tempo tinha passado, até pouco tempo ainda usava aqueles colares de contas... Ah, que tempos àqueles, valeram cada minuto e nunca o vento foi tão fascinante e inexplicável. Daria um livro sua história, quase folhetinesco-chique, quase dantesco-cômico, mas grandeloquente a cada fase.
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Fecho a janela do meu apartamento e vou me deitar. Tento esquecer essas elucubrações acerca da vizinha da frente, sentada numa grande sala bem iluminada.
Inventado por: Henrique Neto às 19:35 | Link |
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