Menina de saia rodada
Na noite de São Paulo uma casa de forró, na selva de concreto e fumaça meninas dançando durinho na batida do zabumba. No meio do salão voltinhas, coreografias e frouxidão numa dança feita para dois, no mano a mano. A cerveja que não satisfaz, o nordestino assustado no meio do salão e logo adiante uma japonesa dança. Tem japonesa no forró, menina de coxas torneadas e olho puxado, tem lourinha, moreninha, branquinha, meninas de toda cor. Meninas de saia nesses dias de hoje.
A preta que não descola olho, a preta que não disfarça mais e sanfoneiro segura o fole! Menino não deixa o triângulo desandar, cuidado com o pé da moça de nuca cheirosa, cuidado com a branquinha que estuda psicologia, cuidado que ela é filha de hippie e levanta a saia quando dança. E balança e balança que lá no norte não balança assim, rapaz de pescoço quebrado, preocupado com a marca do passo. Esse povo não relaxa nem para dançar e cadê a preta que estava aqui. O que fazem tantas japonesas nesse lugar e àquela moreninha de olho verde, e àquela outra de cabelo curly, e a outra de pele de jambo, me apaixono a cada minuto, isso aqui tá mais para festa a fantasia.
Àquele tiozinho de chapéu é de lá. Àquela repórter magrela finge prestar atenção, a espanhola levou as sobrinhas para dançar e ela roda e roda e roda no meio da pista. Um passo atrás da faixa amarela rapaz, aqui quem não dança fica pelas beiradas. Outro gole da cerveja vagabunda e tiro outra menina para dançar e depois beijinhos, e depois: - de onde você é? Eu amo sua terra. Lá é muito lindo! O que você faz aqui? Daria para gravar uma fita pois é sempre o mesmo papo, sempre os mesmos sorrisos, o mesmo padrão e logo uns beijos. E aperta daqui, acouxa lá, menina, e essa sua mão de seda? E faz calor aqui dentro, ela começa a sentir também. Menina que sabe o que quer e passa e come com os olhos, menina decidida, aposto que vem para cima na hora do vamos ver.
Outra cerveja e a lembrança depois do gole, como é ruim esse troço, como é gostosa àquela japonesa, e a poeira não sobe porque o chão é de cimento, e vem o forró do jeito que deve ser, como aprendi, tento esboçar uns passos mais a cerveja vagabunda fez efeito antes, e fico quieto observando as meninas e suas saias rodadas. As meninas e suas calças cavadas sugerindo pensamentos impublicáveis, as meninas e seu cheiro gostoso no cabelo, as meninas e: cuidado que eu também sei pisar na fulô!
O relógio não tocou e acordei no pinote. O sol já estava alto e os assuntos cotidianos urgiam. Tomo um banho mal tomado, faço a barba mal feita, visto a primeira roupa que vejo e enquanto estou no elevador, sinto vontade de largar tudo e ir à praia.
Inventado por: Henrique Neto às 18:34 | Link |
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