. O dia em que o coletivo andou de marcha a ré na contramão
Era só mais uma tarde de calor pegajoso na cidade. Na rua as pessoas andavam a passos largos a procura de sombra. No farol o moleque vendia água com a urgência das horas escaldantes.
Era domingo a tarde, dia de passear no parque, ir à praia, comer macarronada ou fazer nada, simplesmente. Os carros corriam pelas ruas, o comércio gritava promoções imperdíveis e as pessoas faziam compras na dança das horas.
O motorista atordoado do coletivo passa reto pela rua onde deveria entrar. Breca de vez, pragueja, o sinal fecha. Os carros esperam catatônicos sua saída do caminho. Ele enxuga a testa com as costas da mão. Engata a ré na contramão e o domingo para. Pessoas, carros, mendigos sonolentos que faziam a sesta, todos assistem àquela cena inverossímil. Ninguém sabe como agir, são expectadores apenas.
Um coletivo dando ré na contramão. Um domingo de calor. Ruas que derretem ao sol. Mendigo que não deitam no chão e um coletivo fazendo o tempo andar ao revés.
Quantos revezes cabem em nossa vida? Como lhe dar com todos os contratempos e contramãos em que entramos? Nunca sabemos nem saberemos. Vivemos ocupados demais comprando bugigangas e inutildades em promoção, não temos tempo a perder.
E eu!? Sou só mais um dos que passam.
Sigo sob o sol implacável a procura de sombras.
Inventado por: Henrique Neto às 19:38 | Link |
|