Carta para alguém que mora ao lado...
Dia desses, revirando meu guarda-roupas a procura de sabe Deus o quê, encontrei um velho envelope verde de matéria sintética que imitava pano e papel. Não me lembrava, mas nele guardava cartas, dessas que se escrevia a caneta e depois de selada, se postava pelo correio.
Não escrevemos mais cartas, percebeu? Nesses tempos comunicação imediata quem se ocupa em usar papel e caneta para escrever? Nem eu.
Pena, pois nestes pedaços de papeis amarelados pelo tempo, estão fragmentos de nossas histórias de vida. Parente distante que escreve 'para saber as novidades e ao mesmo tempo contar as suas', amores deixados para trás em alguma reta da vida, amigos saudosos e muitas lágrimas derramadas sobre o papel.
Cartas são flashbacks com direito a lágrimas e risos revividos, saudade de quem partiu, angústia de quem ficou, conselho útil, notícia de morte, aviso de quem chegou, planos e por vir. As letras deitadas linha a linha exprimem parte da emoção de quem escreve, mostram o vacilo, o receio de contar ou não notícia temendo aperreio ou transtorno de quem lê.
Fotografias de nossas vidas (mesmo que nem sempre estejamos bem na foto), assim as cartas são. E ai de quem rasgar suas fotos como quem apaga com borracha uma linha mal escrita na vida. A vida não aceita que se passe borracha, amigo, deixa no máximo que a gente escreva melhor a linha seguinte, mas nunca a vã sobreposição.
Como uma janela no tempo, de carimbo em carimbo vi uma década de minha vida. Revivi a emoção de abrir cada uma das cartas e todas elas - sem exceção - diziam para eu nunca me esquecer de nenhum ponto se quer da minha história, pois ela, página por página era responsável pelo sufoco e sossego em que hoje vivo.
Inventado por: Henrique Neto às 22:42 | Link |
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