Um Amor e Uma Rural
Roberto estava apaixonado, dessas paixões chicletinho. Hoje fazia dois anos de namoro. Ia pedir a mão de Anna, sua amada, em casamento. Já tinha comprado as alianças em cinco prestações. Fez muita hora extra na firma para juntar o dinheiro.
No dia seguinte já estava marcado com a cartomante, mas não tinha certeza se ia ao seu encontro. Tinha medo de descobrir coisas desagradáveis sobre sua Anna. A consulta custava trinta Reais e Roberto teve de economizar almoçando cachorro quente durante uma semana.
Vivia sonhando com a casa que ia morar em Cangaíba, herança do seu avô. Ia mobiliar com tudo novinho, do jeito que Anna queria. Já imaginava a cena, ele chegando à tarde do trabalho e Anna esperando ele de avental, com um bolo que acabou de sair do forno em cima da mesa de fórmica da cozinha.
Teriam dois filhos, um casal. A menina ia estudar balé quando completasse cinco anos e o menino ia para o exército. '- Vai se chamar Jonatham!', Roberto adora esse nome.
Na casa da Anna, de gravata e um velho paletó emprestado, suava horrores em frente aos sogros. Gaguejava, muito, exatamente nas frases em que tinha ensaiado. Diante de cena tão constrangedora, eles entenderam que era a mão da filha que o rapaz pedia.
Anna não mostrava alegria nem triste, mas acenava como se concordasse. Queria sair das casas dos pais mesmo que fosse casando. Não se dava com a irmã mais velha, Marta.
Um ano depois, pagando as prestações da geladeira, último móvel que faltava, Roberto se aprressou em marcar a data do casamento. Os seus pais e os da Anna iam se juntar para bancar a festa, a tia Eleonor ia fazer os salgados e o bolo, já a tia do interior ia dar o vestido.
Deixaram a data e tudo mais acertado. Roberto não cabia em si de felicidade e só não chorou porquê teve vergonha. O pai de Anna, enquanto a mãe servia café, dizia para o noivo o quanto estava satisfeito com aquela situação. Anna não desgrudava os olhos da tv, adorava a novela das oito.
Se despediram no portão. Roberto foi para casa já com o nó da gravata frouxo. Encontrou os amigos num boteco no meio do caminho, parou para bebeu como nunca tinha feito.
Na manhã seguinte, às nove em ponto, Anna pegou a mala escondida em baixo da cama e fugiu com Fábio, o rapaz que passava todos os dias na sua porta vendendo bujão numa Rural velha.
Inventado por: Henrique Neto às 20:03 | Link |
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