o que sinto e calo
Saí pela rua de bicicleta ensaiando umas coisas bem bonitas para te dizer
quis compor um poema lindo como retalhos de cetim para declamar na hora do café
mas você fugiu de mim
não me culpe, pequena, pelas coisas que não sou nem nunca vou ser
sou assim mesmo, reconheço, seco por fora, econômico para dizer de amores
mas por dentro sou passional até a última célula
meu sangue é agitado como o mar em noite de tempestade
e essa agonia toda tem um nome que se escreve pequeno mas não ouso dizer
não tenha raiva de mim, tola
no fundo meu desejo é mais simples e tem muito a ver com esses carinhos que você faz
penso em frases que te agradariam ouvir
me imagino dizendo elas todas, teu sorriso de aprovação
mas na hora final penso que tudo isso soaria como um grande filme kitsch
e busco a originalidade na calma de um olhar compreensivo
sinceramente nem sei se você notou
mas foram todos para você
te faço gozar pois adoro ver você queimar em brasas
você fica melhor descabelada, uivando louca, sabia?
Deixe que da cozinha cuido eu, mulher minha só se cansa na hora certa
e pode me arranhar as costas que o álcool tudo resolve
só não reclame se um dia entre o computador e a pia
você me encontrar chorando
porque eu choro --sempre que tenho vontade-- e não tenho medo de dizer,
mas só a você que não lê essa carta porquê rasgou antes de abrir o envelope
e foi embora só porquê eu não disse tudo o que sinto e calo
Inventado por: Henrique Neto às 00:14 | Link |
|