. noites paulistanas
O quê foi àquela torrente de palavras quase sem sentido? Onde queria ter chegado, o quê tentou dizer? Não se lembrava, ou não queria se lembrar. Do momento guardou apenas a saia da moça que subia a avenida agarrada a sua namorada e a leve sensação de que havia vomitado palavras a esmo, como quem tenta confundir o terapeuta em ato explícito de sadismo ôco.
Péricles, depois de ter dormido dez, doze horas seguidas tentava, embaixo do chuveiro, ordenar suas ideias e a intenção que tentou empregar a elas. Não conseguiria, sabia disso. O apartamento (na verdade um kitchnet de trinta metros quadrados) fedia a cerveja. Lembrou da última vez que chegou em casa bêbado e vomitou todo o corredor do seu andar. Os vizinhos não vão reclamar dessa vez.
Saiu do banheiro de toalha, pés pingando no tapete, enrolou mais um, jogou o corpo para trás e sorriu pensando no quanto tinha sido filho da puta e havia confundido. Não se faz isso com ninguém, menos ainda quando esse alguém lhe conhece a pelo menos cinco anos. Era sim, um-belo-filho-da-puta, com todas as letras. Devia pegar o telefone para pedir desculpas, mas não fará, jamais pediu desculpas, da única vez que tentou foi tão canastrão que só piorou a situação.
Jogou a toalha molhada em cima da cama, foi até a janela e ficou lá olhando os carros passarem na avenida. A vizinha do prédio da frente espiava ele de binóculos. Se deixou observar por mais um tempo, sabia que ela estava lá há pelo menos dez minutos, nutria esse prazer narcísico de ser espiado por uma mulher que ele ainda não conhece. Ela, talvez seja uma advogada desquitada que vive sozinha há seis meses e desde então, de binóculos em punho, observa as janelas em busca de uma vida mais interessante que a sua.
Vestiu uma calça, camiseta, pegou uma coca na geladeira e foi para a rua, tinha uma festa na casa dos amigos. Hoje não ia beber nem cheirar, se conseguisse, queria dar um tempo sem ficar entorpecido. Todos já estavam lá, inclusive as cinco meninas convidadas. Marcelo e Guto estavam só esperando sua chegada para a brincadeira começar.
Três horas da manhã, depois de ter cheirado umas quatro, cinco... talvez seis carreiras, procurou a ruivinha que ele tinha gostado de cara. Encontrou ela no quarto da empregada com mais duas meninas. Com sua natural cara-de-pau se juntou ao trio e foi logo dando ordens a elas. As meninas adoraram a brincadeira e enquanto se revezavam a espera de sua vez, cheiravam carreiras robustas na barriga de Péricles.
No escuro, cambaleando, tentou em vão encontrar sua roupa. Cansado e com sono, se jogou no tapete da sala para adormecer enquanto via a paisagem pelo janelão da sala. Ao longe as árvores do parque balançavam com o vento, o lago escuro ainda estava com a fonte ligada e enquanto abstraía, fez um grande esforçou para esquecer da filha da putice que tinha aprontado com o amigo.
Inventado por: Henrique Neto às 20:07 | Link |
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