A saga do João que nasceu e morreu num dia só
João nasceu e morreu numa noite de São João
como uma dessas piadas que o destino nos prega
mas que os chatos da realidade chamam de casualidade para sequestrar do fato qualquer tom místico
João, pai de Carlos e nove outros meninos, filho de Mocinha
Carlos, que nasceu na noite de João
e chorou na noite de João
e urrou por João
João rapaz bem apanhado e boêmio
destemido João casou com moça bonita de cabelo comprido
João de família abastada dona de bodega sortida
tinha de um tudo – diziam os antigos –
de chapéu de massa à farinha de Brejinho
Em baixo do sol e do chapéu Havana tem João
no jogo de sueca tem João
nas rodas de serenatas e violão tem João
sentado num banco de madeira – até vejo ele agora – tem João
e em todas as mesas de bar
é lá que João está.
De camisa de mangas na feira de Goianinha tem João também
contando a mesma anedota a vida toda,
no misto do leite
lavando os pés na cacimba tem João
mesmo que cacimba não, cidade se acabe, cavalos desembestem, milho seque na espiga ainda tem João
João avermelhado, alto
desses homens brabos mas manso de coração
generoso João,
filho obediente do velho Zé Henrique
João que queimava em brasas caieiras
que queimava em brasas de amores
que amava a mulher que amava a todos
pobre João
amava a mulher de todos...
João que ficaria orgulhoso da prole
faria lista de presentes
organizaria casamentos
louvava a santa que teve
a santa de casa
a que fazia milagres, horas cega, horas surda, outras dissimulado sorriso,
a santa de João
a que amou João de ninguém
o João que nasceu e morreu num mesmo dia
o dia de São João.
Baseado na música de Antônio.
Inventado por: Henrique Neto às 23:46 | Link |
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