Caminho
Num setembro antigo reuniu os filhos para fazer uma faxina pesada na casa. Ia receber "a filha que vivia pra São Paulo", queria ter a casa asseada para quando chegasse. Clara cometia pequenos gestos.
No dia marcado, móveis no quintal e na calçada, água no chão, sabão com fartura, disposição para vassouradas, almoço atrapalhado e os homens para espanar o telhado até a cumeeira. À tarde óleo de peroba, álcool nos vidros e os colchões no sol para perderem o cheiro de mofo.
Dia da viagem, bagagem no porta-malas, meninos no banco de trás, atitudes não cotidianas. Clara pintou as unhas, arrumou o cabelo, calçou a melhor sandália, trancelim de ouro, tudo como não costumava fazer.
Como qualquer pessoa que não lê o futuro nem prevê a própria morte, agiu normal. Café, filhos, leveza, sandália nova, carro e... Minutos antes, Clara, ainda com calor, se perguntava se o caminho a ser percorrido era muito longo.
Inventado por: Henrique Neto às 23:01 | Link |
|