Cabra
Você freqüenta festas em casa de nordestino?
Para a resposta negativa uma constatação: você não sabe, então, o que é uma festa. Saí de lá ontem pensando nisso. Lembrando da espontaneidade que faltas às pessoas dessa cidade e no quanto é bom a entrada do inesperado na vida de um cabra.
Eu sou um cabra. De barba feita, civilidades frívolas, mas ainda assim um cabra. Qualquer hora te explico isso melhor e você, menina, vai entender direitinho. Prometo.
- Você já observou nas moças de hoje em dia? Observou como elas são macho pra caralho? Em como enfrentam e tomam conta das situações. Heim, já reparou?
Adriano me faz esses questionamentos esquisitos a cada vez que vai me contar do seu mais novo e frustrado amor. Incrível a previsibilidade do meu amigo. Em seguida dará detalhes da personalidade dela – ele sempre acha que a conhece o suficiente para teorizar sobre o tema –, dirá que desta vez estava apaixonado de verdade e uma série de frases do seu repertório à la Reginaldo Rossi.
– Adriano, passionalidade em excesso é veadagem.
Essa é a senha para a gente pedir mais uma cerveja, comentar a mediocridade da nova literatura, lembrar das festinhas que fizemos no seu apartamento regado a vodka, garotas desinibidas e outras amenidades etílicas. No fundo falamos sempre a mesma coisa, observe. Somos um bando de jovens chatos, reclamões e cheios de querer culpar o “sistema” (sempre ele) por tudo. Adriano, meu sobrinho lá de Natal ou eu rezamos sempre a mesma ladainha.
– O bom mesmo é a espontaneidade, a firmeza nas ações e a moral para dizer o que a gente quer mas nem sempre tem as manhas. Superfilosofa.
Páro o carro. Adriano vomita de novo com a porta aberta. Antes de deixá-lo, me lembra do futebol do dia seguinte.
Chegando na minha casa tenho a certeza que vou ter de inventar uma desculpa muito esfarrapada para a patroa. Dizer qualquer coisa parecida com: “eu estava só no bar com uns amigos tomando cerveja”, falar mais alto e depois, quando ela estiver bem colérica, arrastá-la pela cintura até o quarto e fazê-la lembrar que eu sou seu porto seguro. A firmeza que ela buscou a vida toda. Logo eu, um cabra errante que perde a vida em mini-aventuras amorosas.
Inventado por: Henrique Neto às 22:16 | Link |
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