Paquetá
Agora o sonho do verão é o mesmo, mas em bandos. Aviões cortam o céu como pássaros diáfanos. Sobram dias para entender essa parte nonsense de sua vida. Silvana vive tranqüila com seu namorado, cachorro e pai possessivo. Mês que vem se muda. Comprou um apartamento de três quartos no Jardim Botânico.
No trabalho, roteiros de novela que ninguém assiste, literatura oca e lembranças parciais do avô literato. Com clareza, lembra-se só do dia em que ganhou de suas mãos um livro embrulhado em papel marchê.
Da temporada em Belô, tem saudades da Savassi e das farras imemoráveis madruga à dentro. – Um escândalo para a família mineira! – disse a avó. Largou os amigos e voltou para o Rio, a cidade onde todos um dia morarão. Exceto Péricles com sua burrice juvenil. Péricles e sua família excessivamente mineira. Péricles o frouxo.
Começou a pintar uns lances de produção de documentários. Ia rodar um em Baía Formosa. O namorado não quer deixá-la ir e resolveu acompanhar. Acompanhada ela desiste. Bateu a insegurança – nele –, cansou da possessividade do rapaz – ela. Pediu ela em casamento e foram passar lua-de-mel em Paquetá. Sem desconfiar, voltou grávida dando início à prole de cinco filhos que terão, e uma vida de dona-de-casa que ela, nem em seu sonho mais 'seção da tarde', jamais sonhou ter.
Inventado por: Henrique Neto às 20:55 | Link |
|