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20041207



Família


Calçada não é um lugar de aconchego. Invariavelmente suja, esburacada, mal ocupada, a calçada pressupõe passagem, parada dos que sentem vertigem, vendem baganas, batem carteiras ou fazem ponto, mas nunca lugar apropriado de descanso, nem de homem em queda livre.

Chego ao ponto de ônibus e moças inquietas preocupam-se com o homem que cai e bate a cabeça. No meio-fio rebaixado, a poucos centímetros da avenida de carros velozes, um corpo padece. Chamam minha atenção, pedem minha ajuda, atravesso a avenida e vou até o encontro do desconhecido que desfalece. Embriagado mas ainda desperto, tentamos descobrir se reclama de alguma parte sua que tenha quebrado ou saído de operação.

Chamo o resgate, o homem chafurda na poeira enquanto clama pelo cancelamento da ligação e pragueja a família. Qualquer família, ainda que a sua própria. Consigo arrancar dele, apesar da voz pastosa e confusa, um número de telefone e seu nome. Era desses ditos de forma diminuta e inexpressiva - Toninho, se não me falha a lembrança.

Ligo. Do outro lado um paulista seco e objetivo desconfia do fato de eu saber o nome do seu pai. Digo da queda, dos carros, da calçada, da pancada na cabeça e em resposta, ouço algo como: "– beleza, estou indo até aí".

Passam longos trinta minutos. O homem pragueja contra a esposa, os filhos, o casamento e tantos outros ícones da sociedade quanto sua memória permitiu. Ligo de novo para casa do senhorzinho, dessa vez atende uma menina que, mais amável, tem a decência de agradecer pela ajuda e preocupação com seu pai. O fraco que agoniza histérico por socorro.

Um carro pára a vinte e tantos metros de nós. Desce o paulista objetivo de ar impávido, cabelos compridos denunciando sua condição abastada, e uma pose de desdém de virar as bolas. Grunhe algo que imaginei ser um 'boa noite!', olha o pai no chão de soslaio, não lhe dirige a palavra, volta para o carro, fala com a mãe aponta para nós e volta para próximo da roda onde seu pai é o centro.

A mulher engata uma ré, para mais próxima a nós, não desce do carro, esboça um agradecimento constrangido. O senhorzinho fracassado agradece cheio de ironias. O filho não move um cílio para levantar o pai do chão. Nós o içamos sozinhos, o colocamos no banco de trás do carro e a família parte em disparada pela noite de São Paulo.

Eu estava com essa seqüência inverossímil na minha cabeça desde ontem e até agora – dez e quarenta e sete da noite de uma terça – não consegui me conformar que essa cena toda se deu e não foi no plano das lorotas.



Inventado por: Henrique Neto às 22:53 | Link |





































blogchalk: Henrique /Male/26-30. Lives in Brazil/Sao Paulo and speaks Portuguese. Spends 70% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection.


































































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