Freud e Mãe Menininha do Gantòis
Era absolutamente monotemática. O assunto?
Eu.
Em primeira pessoa do egoísmo. Tudo, sem exceções, começava ou terminava nela mesma (quando não aconteciam as duas coisas). Conseguia – é verdade – ouvir outros assuntos diferentes de “eu” por no máximo três minutos, mas via de regra, era eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, e quando a audiência cansava, falava em de si de forma indefinida. Tipo: a 'pessoa' tem de ser assim-assado. Se auto-referenciava fulltime. Nem na China comunista, o imperador exigia tanta exclusividade.
Anos de divã, terapia de florais, reiki, daime, promessa, astrologia, filosofia, peregrinações, Contardo Calligaris, o caminho de Santiago de Compostela ou Mãe de Menininha do Gantòis, conseguiu curar àquela carência toda. Um saco! De onde veio essa carência? Investigações mais profundas podem resolver o caso. Só assim, acredito. Mas se a vontade é ser o centro gravitacional do universo, desse mundo e dos outros ainda por existir, porquê não transcender?
Fato é que se é pobre com ad eternum, quando se nasce nessa condição malsã. Culpa, rancor, inveja, fel de bílis e outros sentimentos nobres adjacentes, fazem e farão as honras da casa. Ora, de quem estou falando? É fácil, Daniela! Se esforce que você haverá de saber. Vamos lá, não é tão difícil assim.
Mas anda rápido. Corra antes que leitores incautos escrevam desaforados correios, desses em que se escreve espancando o teclado, em revolta ao problema exposto em praça pública na hora da quermesse. Identifique, mas não julgue nem aponte. Os afetados falarão em projeção e outros psicologismos herméticos e indecifráveis, como todas as ciências inventadas por um homem só.
Como essa história acaba?
Só Freud sabe.
Inventado por: Henrique Neto às 21:10 | Link |
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