Das pequenas felicidades e suas variações


Ele chegou cansado em casa. Pastinha em punho, nó da gravata frouxo, ar de fim dos tempos. Era funcionário. Tinha um empreguinho de merda, numa empresa de merda, com chefe e funções idem. Que vida, minha flor. Que vida!

O que salvava era àquela mulher em sua vida. Carinhosa, lhe dava banhos reanimadores. Um homem precisa, sem exceções, do doce banho dado com todas as manhas que só tem a mulher.

Seu mundo agora, era pintado de cinzas e suas variações. Não tinha nada, exceto seu amor, que lhe dava ganas. O tempo era o hoje, o sonho de consumo pé no chão. Nem todo dia é fácil ser. Existir, ter de, não é todo dia... Há de haver um rodízio para o estado do existir. Há de se economizar a humanidade de cada um.

Apesar de tantos contra-tempos e achaques cotidianos, sabia que tinha seu tesouro ali consigo. Poderia rumar e errar pela vida inteira. Tinha tempo e energia a serem gastos. Seu diferencial.

Pensou em desistir diversas vezes. Tentou relaxar. Lembrou da nega, dos filhos por vir, das tentativas boas e quem sabe até, para o ano que entra, comprará um carro. E porquê não?

São histórias cotidianas como a sua, que fazem das cidades um viveiro de ecletismos muitos. Pragmáticos pensarão ser bobagem, mas ninguém dirá que não houve ânimo. Ele e sua nega eram.

Assuntos de necessidades práticas? Para depois da sesta. Queria mesmo era se mandar da cidade, deixar para trás o mar de Copacabana, a Vieira Souto e vender coco. Feliz como só são os que andam descalços.