Não é só mais uma crônica urbana
São seis horas da tarde, helicópteros sobrevoam a cidade em busca de engarrafamentos. A essas horas, os 2.3 moto-boys da estatística já foram atropelados, a funcionária solteira chora sozinha no carro, lembrando da dura que tomou do chefe, as mães se atrasam para pegar seus filhos nas escolas, e o guarda multa religiosamente aos que desobedeceram as leis locais do trânsito.
A cidade segue seu normal, sem alagamentos nas Marginas ou rebeliões nos presídios, mas com malabares, vendedores de balas, carregadores de celulares e toda a sorte de aleijados praticando a mendicância deliberada nos sinais.
Em meio a essa valsa urbana, penso no que seria de mim para suportar esse caos, se não fosse você. Ai dessa cidade, tão cinza e sem horizontes, se não fosse você emprestando a ela um pouco de cor e graça. Ai de mim, nega com nome de flor, se não fosse teu riso, que também é o riso mais gostoso do mundo. Só você (e por você) para me fazer lembrar que, há uma vida possível em meio a selva de concreto e caos em que transformaram essa cidade. É por você que eu penso em juntar uma grana, comprar uma casa e ter alguns meninos para a gente ter com o que se ocupar.
Flor, daqui de onde faltam árvores, há um farto mercado de mulheres a rondar minha cama. Uma para cada noite, se esse fosse meu querer. Mas, entre todas elas, não há nenhuma que me agrade como você e esse seu cheiro de flor. Saiba que é você, quem me fez praticar a calma que nunca soube ter. E daqui de minha janela no décimo andar, enquanto assisto aviões retornarem de longe, carros que arrancam histéricos noite a dentro, e pessoas de alma leve que consideram a possibilidade do livre voar, uma pergunta apenas me vem a mente: quanto tempo ainda falta para você se mudar aqui para casa?
Inventado por: Henrique Neto às 21:04 | Link |
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