Cachorro! Havia uma vontade enorme de voltar para casa e ficar quieto, tomar um banho demorado, colocar àquele velho calção, ficar descalço e ouvir um som. Quem sabe até, redescobrir um disco há tempos esquecido na estante da sala e dependendo da disposição, tomar um vinho ou um café. Era um fastio de gente, um desejo de não falar com ninguém e ficar só, malhando os pensamentos a fogo. Ficar quieto, bicho na gruta esperando o pêlo crescer na cara. Há dias de balanço para todos, meu caro jovem. Você também fica assim, a diferença é que sai para beber ou fazer compras. Não queria interagir, não queria discutir idéias, expor as poucas que tinha. Era o momento só, onde a cabeça voa baixo, o pensamento fica elegante e os pés sentem os vãos que unem um taco ao outro. Providências de emergência incluíam: telefones desligados, secretárias funcionando e a torcida para o interfone colaborar. Fastio total. Decepção total. Expectativas criadas sobre você, morena. Você mesma que compra flores aos sábados, é "adepta de uma vida mais saudável" (ao menos era o que estava escrito na bula), e não suporta tomar cerveja. Mas o que são as expectativas se não viagens internas, não é mesmo? Ninguém promete nada, a gente inventa de acreditar e lá se vai um mote para quilos de literatura barata. Talvez – e agora eu já estou elucubrando – o problema seja tentar viver uma literatura barata. Sentimentos, subentendidos, sutilezas e outras coisas mais com a letra S, complicam demais o cotidiano. Há de se esquecer esses ideais românticos pois, ninguém é inocente ao som do pancadão. Nem mesmo as virgens nostálgicas do Jabor. E viva os paulistas que têm na produtividade o seu Deus (isso sim é um povo prático). Interagir por conveniência, evitar a quem não se gosta, usar o telefone, a secretária, o eMail como escudos pode, sim, ser uma saída menos danosa. Condomínios contra os inconvenientes já. E para acabar, um conselho: seja muito cachorro! Isso aumentará seu passe.
Inventado por: Henrique Neto às 20:19 | Link |
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