O Casamento Nos Tempos do Shopping
Foi difícil chegar até ali. Foram três anos gastos. A cintura parecia querer partir-se, a barriga fazia uma curva para dentro e o busto, então? Foram oito intervenções sem contar o nariz. "Estava linda", não cansava de ouvir elogios das amigas que o fazia num misto de inveja/bajulação.
Jorge não a procurava fazia meses. Ela andava meio sem disposição, logo agora que estava tão bonita, com trinta anos recém completos e totalmente "repaginada" – como disse seu cabeleireiro. - Ele devia agradecer a Deus pela mulher que tinha.
Não agradecia e tão pouco se importava com ela. Jorge chegava tarde e as raras conversas entre eles, se resumiam a diálogos curtos de respostas monossilábicas. Ele pagava as contas, ela as fazia e pronto.
Durante a semana saía todas as noites, dava uns beijos em algum garotão pé-rapado, pagava a conta e vez por outra ia para o motel. Tudo pago por ela, claro! Jorge, cada vez mais distante, não cogitava a hipótese da separação. A quebra do contrata previa uma multa salgada para ele.
Para receber seus garotões eventuais, ela montou uma garçonière num prédio discreto lá nas Perdizes. Jorge sabia de todos os seus passos, mas dissimulava. O apartamento passou a ser visitado com muita freqüência. Numa terça à tarde, no calor seboso que faz no verão de São Paulo, Jorge entra quarto à dentro, dá dois tiros no michê, entrega a arma para Eliana e faz ela ligar para a polícia:
– Eu acabo de matar um homem. Fiz para defender meu casamento. Ele queria que eu contasse a meu marido que era meu amante. Eu não podia fazer isso com o homem que amo.
Inventado por: Henrique Neto às 16:40 | Link |
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