O Triste Fim de +Sarina S.
Ela assinava como "Sarina S.". Durante muito tempo a polícia acreditava ser apenas seu apelido (nick, como dizem os informáticos roots). Estavam enganados, era esse, por extenso, o nome da moça que cometeu o maior crime da história da net brasileira.
Tudo começou quando Sarina S., um tanto fatigada de sua vida pequeno-burguesa em Natal, entrou para o mundo das BBSs. Nessa época os poucos afortunados que tinham acesso a internet – paga a peso de ouro –, gastavam seu tempo em salas de bate-papo. Da BBS para o mIrc foi um pulo e foi nessa que Sarina S. se tornou "OP" de uma destas salas.
Para quem não lembra/ conhece, OP era a designação dada às pessoas que administravam uma sala de chat. Esses OPs tinham seus apelidos acompanhados do sinal de +. Estava então criada a cyber-persona +Sarina S.
+Sarina S. tinha vida dupla, durante o dia freqüentava um curso de jornalismo e publicava um fanzine de moda, à noite comandava um exército de súditos na disputadíssima sala de bate-papo onde suas falas eram proferidas. As testemunhas de tal acontecimento juravam tratar-se de verdadeiros happenings.
Não demorou para seus ensinamentos tomarem as ruas de Natal. De Potylândia à Gramoré todos seguiam as instruções de +Sarina S. Lá ela ditava moda, vocabulário, hábitos de consumo e outros tantos parangolés.
Nas madrugadas da terra mais bela de Poty, os sons dos modens ecoavam pelas bucólicas ruas assustando cachorros, bêbados e guardinhas desavisados. Era a rede se formando para beber da sabedoria d'Ela, a OP das OPs.
Surgiram várias suposições sobre quem era e como vivia +Sarina S. Uma das teorias mais críveis era a de que ela vivia sozinha numa casa às margens da Lagoa do Bonfim, e de lá não saía nem para ir ao mercado comprar mantimentos. Diziam ser uma moça alta, esguia, morena, de olhos negros e cabelos estrategicamente desgrenhados. Nunca se provou tal teoria.
Em louvor a novíssima Cyber-Deusa, rituais eram feitos na Praia dos Artistas nas noites de lua. Escolares organizavam flash mobs em plena Praça Cívica, na Bernardo Vieira e em outras partes da cidade. Hordas de rapazes fizeram voto de castidade para +Sarina S. Ouviu-se falar, inclusive, de uma comunidade formada na Cidade Satélite, onde seus participantes viviam enclausurados em uma casa de apenas dois quartos.
Com todo esse frisson juvenil, foi formado um elaborado esquema de pirâmide financeira gerida pelas pastoras (eram todas mulheres) da nova seita auto-intitulada Adoradores da Cyber-Deusa dos Últimos Dias. As contribuições eram vultosas e Sarina S. acumulou fortuna num esfregar de olhos.
Esse fato, somado à radical mudança de comportamento dos jovens natalenses, fez com que a Polícia Federal fosse em busca de +Sarina S. – o mito.
Desmantelada o esquema da pirâmide, a hierarquia da seita e suas principais articuladoras, +Sarina S. se viu obrigada a fugir para o sudeste. Hoje, entre trabalhos para um canal de televisão famoso, participação em badalados filmes do grande circuito e um saudosismo dos seus áureos tempos, ela tenta remontar sua rede, só que agora se utilizando do Orkut, o hit do último verão.
Inventado por: Henrique Neto às 15:46 | Link |
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