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20051031
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Ariano Suassuna Para Presidente
Tem coisas que minha nordestinice não admite, como a comemoração do "hallowen", por exemplo. Que tradição há de bruxas nesse pedaço de terra fartamente banhado pelo oceano atlântico? Não seria Papangu, Homem-do-Saco, Saci-Pererê ou até o Boi-Tatá?
Me irrita profundamente ver locais decorados com jerimuns, bruxas, morcegos e outros tantos parangolés gringos.
O conterrâneo Câmara Cascudo deve espumar de raiva em seu túmulo, ao ver tamanha subserviência à cultura yankee. Porquê não comemoramos o dia do vaqueiro (eu disse vaqueiro, nada de "cawboy"), do Cordel, do Boi-de-Reis ou de outros ícones que pipocam em todas as regiões desse país?
Ao queremos adotar a cultura alheia, não podemos jamais prescindir da nossa. Esse tipo de manifestação só faz reforçar a síndrome de vira-latas da qual sofremos, além de enaltecer uma sub-cultura.
Fomos "colonizados", como nos contam os livros de historia, mas antes dos viajantes do além-mar, já existia a cultura nativa. A mistura da qual resultamos, já contempla em si elementos riquíssimos e suficientes para nossas manifestações culturais.
Concordo, porém, com quem defende a globalização também na cultura, que fechar-se para o que advém de fora é regredir e mi-mi-mi-mi..., mas não me venha com essa de colono que copia a moda do império. Isso já era démodé no século XIX, quem dirá hoje. Além do que, tirando a grana que os EUA (ainda) tem, o que mais de bom eles fizeram/fazem pelo mundo? Quando esse império passar – sim, nobre deputado, ele também passará – que legado será deixado para a história da humanidade? Viveremos tranquilamente sem chicletes e calças Lee, creia.
Sou nordestino, brasileiro e não admito que nossa cultura seja relegada em nome de sub-culturas.
E antes que eu me esqueça: Ariano Suassuna para presidente!
Inventado por: Henrique Neto às 14:37 | Link |
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20051027
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Impressões
Eu estive no inferno e não gostei de lá. Ao contrário do que dizem, lá não é esse lugar animado e cheio de festinhas desavergonhadas. O Demônio, anfitrião execrável, tem ares de padrinho gordo e bonachão, faz perguntas genéricas, finge atenção e te lança olhares de piedade velada. Lá, a luxúria é deixada na chapelaria à entrada, e na rádio interna toca Zezé di Camargo & Luciano sem parar.
O maior problema do inferno, é que tudo parece absurdamente normal. As meninas usam roupas de grife, fazem luzes, se depilam, lêem revistas de fofocas e usam bolsas em par com o cinto. Lá, elas te medem pelo carro, fazem perguntas oblíquas sobre a renda, especulam o tamanho do seu telefone celular e acham tudo "superrr bacana". No inferno todos aprendem ser genéricos, e dessa forma, todo mundo entra no processo de pasteurização, onde há apenas três modelos aceitáveis. É lá, onde a pequenice humana encontra remanso.
Perdi dias e dias perambulando pelas salas que há no castelo profundo e lá, participei das rodas por onde os medalhões sorriem em flashs, balzacas testam o limite de elasticidade da pele, e as moças de família quatrocentona, praticam abortos à galope. Era nessas salas-de-jantar que os homens diziam dos times de futebol, elencavam os carros estacionados em suas garagens, faziam ranking das mulheres que "já pegaram" e assim - com toda a disfarçatês que a santa dissimulação permite - praticam o amor entre semelhantes.
É, eu estive lá. E vi que do lado de fora, os que se imaginavam preteridos do convite, tinham nos olhos a fome de quem deseja. A zoada, os gritos histéricos e todo o ar denso e festivo, iludiam os passantes que julgavam tratar-se de farra ou coisa boa. Mal sabiam que na casa do Príncipe, tudo era véspera de um imensurável genocídio, e que da porta para dentro, não existiam inocentes. Apenas aqueles, que tal como Sherazade, protelavam a noite funesta.
Inventado por: Henrique Neto às 22:12 | Link |
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20051026
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A 'inteligentsia' convulsiva
- Você já leu Chomsky, né? - [...] - Não!? Como assim: 'nunca ouviu falar'? Noam Chomsky, o mais libertário pensador norte-americano!
O Pescoçudo faz ar de fatigado.
Repetia esse comentário pseudo-indignado, em cada roda de conversa. Fazia ar de cineasta em crise, se revoltava com o imperialismo yankee e outras mumunhas mais, só para ter mote e proferir seu único discurso estimação.
Desde que assistiu na tv educativa, um documentário falando sobre o intelectual americano hype, Noam Chomsky, vive repetindo expressões como: "as mais polemicas e lúcidas análises", "o papel contemporâneo da mídia na fabricação do consenso nas sociedades de massas" e "intelectual suspeito para a esquerda dogmática". Tinha pequenos tremores, só de ouvir o som de sua voz articulando tão sonoras frases.
Depois do famigerado documentário, passou a admirar ("- desde a adolescência", é bom que conste!) os pensadores judeus, como: Martin Buber, Gershom Scholem e todos os outros da tradição dos emigrantes anarco-sindicalistas. Aliás, "anarco-sindicalistas" era a palavra. Ele fazia tamanha milacria com o rosto e as mão antes de pronunciá-la, que a audiência temia que entrasse em processo convulsivo ou coisa parecida.
O Pescoçudo estava mesmo intragável. Sua chegada nos lugares era, invariavelmente, precedida de vácuos provocados pela platéia em fuga desesperada. Cada frase sua começava com uma citação, duas referências à "problemática da teoria da libertação", o último livro de João Gilberto Noll e uma piada intelectualizada de fazer tremer Ferreira Gullar. Os insistentes que ousavam permanecer na mesma roda, eram obrigados a ouvi-lo regurgitar os nomes dos livros que havia "devorado" nas últimas semanas, além de seu especial interesse pelo cinema de Tonga.
Sua última aquisição foi um guia para se tornar culto e elegante. Ficou estarrecido ao constatar que havia uma série de livros e filmes que ainda não tinha em sua coleção. Num surto consumista, comprou todos exemplares de uma tacada só.
Agora, entre a preocupação em decorar trechos inteiros da obra dos pensadores, e entender o os edifícios harmônicos dos compositores clássicos, pensa numa maneira de sair da pendura em que se enfiou com o cartão de crédito.
Ontem ainda, fez muxoxo com um colega que depois de lhe emprestar uns cheques, ousou admitir desconhecer Chomsky e sua obra.
ADVERTÊNCIA: O personagem aqui desnudo, é obra da cabeça doentia desse escriba. Qualquer semelhança com amigos ou conhecidos seus, é por sua total conta e risco.
Inventado por: Henrique Neto às 13:44 | Link |
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20051025
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Ventura, Luan Ventura
Ventura significa destino, acaso, fortuna próspera, felicidade. Significa ainda risco, perigo. Ventura é por fim, boa ou má sorte.
Ventura é também sobrenome. Como o de Luan, um menino de quinze anos, tímido, apreciador de futebol e morador do Jardim Irene, extremo sul da cidade de São Paulo.
Luan, estudante da escola pública Ronaldo Garibaldi Peretti, palmeirense desde criança, estava cansado de ver seu clube do coração perder (o Palestra estava enfrentando uma crise nessa época) e decidiu mudar de time. Para marcar a mudança, comprou uma camisa do São Paulo.
Percebendo que não tinha agido correto (ninguém que gosta de futebol, muda de time facilmente), Luan voltou atrás e resolveu vender a camisa do São Paulo por R$ 7. Fábio, um “colega” de classe, foi o comprador.
Passada uma semana da data combinada para o pagamento, Fábio ainda não havia honrado com seu compromisso. Depois de várias cobranças feitas por Luan, Fábio prometeu que naquele dia, ao final da aula e fora da escola, faria o pagamento da camisa. Os dois se encontraram no local e hora combinados e lá, Fábio – covardemente - atirou em Luan.
Luan Ventura, pardo (mãe negra e pai branco), pobre e morador de periferia, foi socorrido pela polícia – apesar do Resgate também ter sido acionado –, que o jogou no interior de uma viatura, como quem resgata a um bandido. Levado para o hospital do Campo Limpo, Luan teve alta após 29 dias e seu quadro foi diagnosticado como “paraplegia – paralisia – dos órgãos inferiores”.
A mãe de Luan, doméstica de profissão, não tem recursos para ajudar o filho nesse momento de grande dificuldade. Com tanta realidade jogando contra, à Luan restou a solidariedade daqueles que não pensam somente em si.
D. Mª Roseli Pinheiro Dantas sensibilizada com o sofrimento de sua funcionária, Alice Ventura (mãe do menino), trouxe Luan para sua casa.
Vanessa Pinheiro Dantas – filha de D. Mª Roseli – para ajudar Luan, mobilizou seus amigos, os amigos dos amigos, e outras tantas pessoas que se propuseram estender a mão a quem dela precisa.
Com essa rede de contatos, já foi conseguido para Luan seções de fisioterapia, tratamento no hospital Sara Kubitschek – referência nesse tipo de tratamento –, passagens aéreas para Brasília e um computador, onde ele aprenderá uma profissão compatível com sua nova realidade.
Porém, antes de ir se tratar em Brasília, Luan precisa se curar das escaras (ferimentos adquiridos pelo longo período em que permanece deitado), pois o hospital não pode recebê-lo assim, dado o perigo de contrair infecções.
O tratamento dessas escaras é feito com um curativo especial à base de carvão. O custo de cada curativo é de R$ 21.
E nós? O que podemos fazer por Luan?
Aqui no meu trabalho, estamos com algumas ações que incluem desde doação de dinheiro, para ajudar no custeio dos medicamentos do menino, até outros tipos de ajuda - ele receberá, por exemplo, aulas de informática dada por um voluntário.
Se você quiser/puder ajudar esse menino, entre em contato com Vanessa Pinheiro Dantas pinheirodantas@uol.com.br e ela lhe dirá de que maneira você poderá ser útil.
Unindo forças ajudaremos Luan a mudar sua sorte e assim, quem sabe, multiplicar essa ação, para que no futuro também possa ajudar a quem, por ventura, dele precisar.
Divulgue. Ajude. Aja!
Texto: Henrique Neto
Inventado por: Henrique Neto às 14:17 | Link |
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20051018
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Misture, mas não confunda
A globalização chegou para ficar no forró. Agora não tem mais volta. O chamego cinco estrelas, levianamente acusado de derivar de 'for all', foi invadido por hordas de orientais, portuguesas, italianas e outras tantas modalidades desse bicho bom, abençoado por deus e bonito por natureza (salve Jorge!).
Que doce invasão, oh caro forrozeiro! Agora é a vez das nipo-Tiêtas. Elas já estão na beirada do salão, sapatilha bailarina nos pezinhos orientais, ar brejeiro, vestidinho de chita, e aquele inconfundível olhar de 'bora chamegar, meu nego' estampado na face. Uma japonesa à moda do baião, vale mais que duas voando, diria o velho Lula se ainda estivesse por essas bandas. O forró marcado na pancada do zabumba vai reconquista as 'oropa', re-fundar a América e botar ordem na fuleragem da mistura com o samba-roque. O remelexo vai voltar a ser na base da chinela, e ai dos moçoilos adeptos das famigeradas rodadinhas, como gazelas em flor. Esses arderão na fogueira dos que nunca chamaram as 'cabôca' na chincha. E tome rala-coxa, porque quem roda solto feito 'avoador' sem 'pareia', vai pagar de Carolina no meio do salão. Sanfoneiro que é bom não cochila nem deixa o fole cair. Menina que aprecia Ximboquinha e o rala-bucho sabe se encaixar no meio das coxas, e de lá só sair depois de sentir a alegria subir e o calor aumentar. E que venham do estrangeiro as meninas de qualquer cor, credo ou modelo de 'alpragata', porque no poeirão do terreiro, ao som do tri-li-lingue e da sanfona, somos todos sertanejos. E dessa festa, só fica de fora os abestalhados que insistem em reinventar a roda.
Forró nunca foi 'universitário' nem 'pé-de-serra'. Isso é coisa de sulista deslumbrado. Forró-bodó e fobó, tudo bem, mas nem me venha com suas batas e essas modinhas.
É por essas e outras que diante dos teus olhos vos digo: misture, mas não confunda.
Colaborou: Rosilene Pereira
Inventado por: Henrique Neto às 00:44 | Link |
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20051010
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Galinha Gorda
Agora só faltavam as velas vermelhas. Ia comprar hoje à tarde. "- Aquelazinha ia ver do que era capaz". - Goreth estava cansada de passar vergonha na vizinhança.
Por indicação da prima, foi visitar Elvira, uma velha feiticeira que morava lá pros lados de Arthur Alvim. Contou o que pretendia fazer na vida de Lúcia, e a feiticeira deu a lista de materiais para o trabalho.
Goreth morava naquela casa desde que nasceu. A amizade com Lúcia era desse mesmo tempo. Elas viviam grudadas, freqüentaram a mesma escola, viajavam juntas nas férias e na vizinhança, não havia quem dissesse que aquele chamego um dia acabasse.
Quando começou a namorar Pedro, a primeira a saber foi Lúcia. Goreth lhe participava de tudo, sem pudores. Eram tantas as confidências que o namoro parecia ser a três. Lúcia se apaixonou por Pedro, engatou um namoro paralelo e o trio ficou junto quase um ano.
Cansada da brincadeira, Lúcia resolveu dar um basta. Não queria mais dividir Pedro. Deixou no bolso do rapaz um bilhete denunciando o romance. A amiga viu, fez um fuá e acabou com o namoro e a amizade de uma só vez.
Goreth pensou em suicídio, assassinato, mudança de pais e outros bichos. Se trancou com vergonha da vizinhança, curtiu a depressão e depois resolveu ir às forras. Se Pedro não podia ser seu, de Lúcia também não seria.
Comprou uma galinha gorda, cachaça, miçangas, um Santo Antônio e as sete velas vermelhas, como pediu a feiticeira. Na última lua do mês foi pro terreiro fazer o trabalho e lá, conheceu um rapaz que tocava atabaque e tinha um ar denso.
Empolgada com a nova possibilidade, chamou de canto a dona do terreiro e suspendeu a mandinga. Levou de volta para casa o Santo Antônio e hoje, entre idas ao cinema e passeios no Ibirapuera com seu percussionista, reza aos pés do santo encomendando casamento.
Inventado por: Henrique Neto às 11:09 | Link |
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20051005
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La Belle de Jour
Era a hora em que as moças deixam apressadas seus trabalhos, e o trânsito vive sua fúria. Era o momento de rumar para casa, encontrar um amor, um conflito, um desafeto ou até mesmo, uma TV solitária. Nessa hora, nega, hordas correm para qualquer parte, antes que o dia seguinte comece.
Havia uma intranqüilidade, uma esquina, um vacilo. Homens de diversas fardas orientavam a tarde engarrafada, perdida entre tanta falta de espaço. Carros orquestrados, motoristas roendo unhas, ônibus parado como se tudo fosse de pedra. Nem mesmo a manifestação evoluía. Nada evolui, apesar dos helicópteros.
Sofrer num dia cinzento, é um clichê roto e batido. Dias nublados são para faxinas gerais, operações de cistos, compras de gérberas, chás paras velhinhas solitárias, e nós dois nos refestelando na cama. Não para choromingos e muxoxos, ainda que o trânsito nada diga, e a manifestação não evolua.
Espero, no carro, você atravessar a rua displicente. Aguardo sua chegada enquanto lanço um olhar em cerca de você, e na cabeça pequenos flash-backs de cada frase-cruzada-de-perna-beijo-suspiro-gesto-afago-silêncio-bronca-sorriso-despedida-abraço-intenção-ou-olhar que você um dia me acometeu.
Inventado por: Henrique Neto às 18:22 | Link |
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