La Belle de Jour
Era a hora em que as moças deixam apressadas seus trabalhos, e o trânsito vive sua fúria. Era o momento de rumar para casa, encontrar um amor, um conflito, um desafeto ou até mesmo, uma TV solitária. Nessa hora, nega, hordas correm para qualquer parte, antes que o dia seguinte comece.
Havia uma intranqüilidade, uma esquina, um vacilo. Homens de diversas fardas orientavam a tarde engarrafada, perdida entre tanta falta de espaço. Carros orquestrados, motoristas roendo unhas, ônibus parado como se tudo fosse de pedra. Nem mesmo a manifestação evoluía. Nada evolui, apesar dos helicópteros.
Sofrer num dia cinzento, é um clichê roto e batido. Dias nublados são para faxinas gerais, operações de cistos, compras de gérberas, chás paras velhinhas solitárias, e nós dois nos refestelando na cama. Não para choromingos e muxoxos, ainda que o trânsito nada diga, e a manifestação não evolua.
Espero, no carro, você atravessar a rua displicente. Aguardo sua chegada enquanto lanço um olhar em cerca de você, e na cabeça pequenos flash-backs de cada frase-cruzada-de-perna-beijo-suspiro-gesto-afago-silêncio-bronca-sorriso-despedida-abraço-intenção-ou-olhar que você um dia me acometeu.
Inventado por: Henrique Neto às 18:22 | Link |
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