Ícaro
Para ele o tempo de agora era demasiado veloz. Não dava conta de atender a tantas demandas.
Foi por esses dias que desistiu do celular.
Não gostava da sensação de âncoras no peito, preferia o respirar não sincopado.
O microondas, o hard drive e a camisinha eram realidades desde que se entendia por gente. E por gente, preferia levar a vida no seu próprio estilo, apesar dela duvidar das suas verdades.
Naquele dia em que andaram pela praia, beberam e conversaram na areia, foram parar numa galeria (dessas onde se pode usar o banheiro para acudir as emergências do álcool). Lá chorou ao dizer o que sentia. Ela quis ir para casa escrever insanidades em seu cyber diário. Ele, como sempre, tinha feito tudo errado apesar dos ensaios.
Não compartilhava dos hábitos de seus contemporâneos e muito por isso, era tido como o estranho. Não se importava, preferia a paz de poder se olhar a viver no tempo alheio. O pai já tinha aprendido suas marés e ele, apesar dos dezesseis, se sentia velho demais.
Pensava em amar àquela menina que o acusava de choro falso, de ser igual a todos os outros garotos, e que depois de conseguir seu objetivo imediato, sairia por aí contando vantagens nas rodas. Essas acusações faziam sua barriga formigar. Consultou amigos nunca dantes vistos pelo messenger, pensou em falar com um tio que vivia longe, mas sua timidez o desencorajou.
Se achegou às fórmulas matemáticas, em vez das noites de farra na Ribeira. Passada essa fase, estava disposto a mostrar à bela menina fã de Belle & Sebastian, que não era diferente dos outros, só não era muito igual.
ADVERTÊNCIA: Os nomes foram trocados para preservar as pessoas das histórias.
Inventado por: Henrique Neto às 10:53 | Link |
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