Da beleza harmônica que há no vazio
As pausas, dentro de qualquer composição, são essenciais. Desafio para quem cria, necessárias a quem consome e um alívio aos que vêem, os respiros de um texto - tal como espaços vazios em uma casa - harmonizam e dão graça; são a chance da criatividade. O vazio é, portanto, metade de tudo o que há de esteticamente bem resolvido.
Pausas.
Olhos de cidade grande não têm repouso, são seqüestrados quando miram em qualquer direção. Há sempre alguém vendendo nos lugares mais inoportunos. Um apelo, um falso cais tentando nos agarrar, até dentro de mictório tem reclame. Numa cidade sem horizontes, com árvores ilhadas e fins de tarde de beleza espetaculosa, os olhos nunca encontram pausa.
Nem as praias dominicais, nem o correr entre árvores, dão espaço para o vazio criativo. As palavras pintadas folgam com os passantes, gritam em cada poste, alardeiam soluções e namoram as carências. Há desde coletor de bosta de cachorro, a crediários para silicone. Está tudo posto à mesa, sirva-se!
É à noite, quando o véu da boemia se estende amenizando o caos, e a normalidade esboça existir, que a cidade feiosa vive respiros cadenciados. Andando pelo passeio sujo por cachorros, desviando de gente que parece ser nosso inferno e céu, ou criando mini-fortalezas, as pessoas buscam respiros. Pausas para amenizar a dor cotidiana.
Inventado por: Henrique Neto às 11:58 | Link |
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