Minhas férias
Começo de ano é sempre igual (até os escritos falando sobre o começo do ano também o são), dias de ócio, calor, passeios, praia, sítio e quando a gente está gostando da brincadeira, lá vem a escola começando antes do verão terminar. Life is not fair. Os professores não se fazem de rogados, regidos pelos deuses da preguiça nos encomendam aquela famigerada e monotemática redações: "minhas férias”. Nessa hora, ainda fatigados pelo calor, decepcionados com as viagens não feitas e as vontades não atendidas, oscilamos no tom a ser empregado na prosa.
Minhas férias não foram tão longas quanto gostaria, mas foram mais compridas que o meu orçamento permitia. Tomei banho de praia, bica e piscina, mas não de açude. Beijei quem não conheci, prometi o que não devia, mas ainda acho que não foi o bastante. Reencontrei velhos amigos, despistei dos desafetos – novos ou velhos –, bebi razoavelmente, ri em demasia, bati perna, fui seduzido, deixei seduzir, redescobri pequenos prazeres, fomentei manias, sufoquei a saudade, dissimulei sorrisos, cutuquei onças com varas curtas e outras nem tanto, despertei olhares, suscitei possibilidades, desisti de propostas, requentei paixões, me meti onde não devia, cheguei onde não poderia, declarei amores a quem já sabia, reafirmei o desprezo de quem merecia, respeitei minhas vontades, deixei de dormir, ouvi música que não me agradava, dancei até fazer calo, abusei da pouca roupa, acordei o dia e suas alvoradas marciais, fui pagão na festa santa e por vezes, cuspi na lógica e seus achaques.
Fiz isso tudo, noves fora a parte que invento, mas se perguntarem digo que não vi. Tudo em nome da literatura a do bom relacionamento com o professor. Esse sujeito taciturno e cheio de si, que me avaliará até as próximas férias.
Inventado por: Henrique Neto às 13:53 | Link |
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