C’est ma vie
Acordei bem depois do dia, minha morena, com uma saudade lascada de você, de sua boca e dos seus dengos. Com vontade de ouvir música francesa para pensar que entendo tudinho, assim como a leitura errática que faço do teu coração, palheiro de minha existência embreagada. Pense numa vontade grande de ouvir uma musiqueta cheia de intenções safas! Um je t’aime como uma chupada no ouvido que só você sabe me dar. Tive esse desejo, essa vontade louca de morder tua língua, de furar teus olhos, de arrancar teus cabelos, de te acorrentar, como disse o velho Fernando Mendes, noves fora o que não publico.
Ah a saudade, essa irmã siamesa do desejo, el deseo almodovariano, daqueles que incendeiam casas, dirigem em alta velocidade ou seqüestram la belle de la vie. Santo Serge Gainsbourg dos últimos suspiros que me perdoe, mas a distância, a Rebouças ou qualquer outro empecilho é demais para um coração em fúria e uma noite sem a patroa. Triste daqueles que não têm uma dona, uma 'patroa' que lhe possua até o saldo negativo do banco. Filhos bastardos de Kerouac, estarão fadados a comer o prato frio das ilusões perdidas/compradas nas baladas dos corações solitários, pelas malfadadas noites adentro.
Viva Baco e as deusas que sapateiam em mi bandido corazón, estas já estão do céu para dentro umas três léguas. E ai de quem duvidar de sua fúria e classe, pois só elas, com seus delicados sapatos bico fino, têm a fleuma necessária para esmagar baratas e outros seres rastejantes.
Valei-me outra vez São Fernando Mendes, porque ainda hoje vivo na agonia de dizer que amo numa canção. Valei-me todo o acervo da música francesa, o cancioneiro dos cabarés mais fuleiros. Valei-me tudo isso, porque hoje, Neguinha, eu só consigo te dizer ne me quitte pas. Ne me quitte pas. Ne me quitte pas.
Inventado por: Henrique Neto às 11:45 | Link |
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